Construir-te

Entre e Fique a vontade!!! Você é bem vindo nesta Construção!!

Quem sou eu

Minha foto
Psicóloga clínica que realizou por 10 anos atuação na Saúde mental da PBH e atualmente dedica aos atendimentos particulares. Participa de artigos nas Revistas Vox objetiva e Tendência Inclusiva. Realiza palestras e entrevistas na mídia impressa e televisiva.

ARTIGOS VOX

                    

                    Não à pedofilia

por Angélica Falci
Sempre que posso, procuro chamar a atenção das pessoas para os cuidados físicos e emocionais consigo e com pessoas próximas. Estamos vivendo em um mundo muito oscilatório em que, infelizmente, não conhecemos as pessoas a fundo, suas dores e seus adoecimentos.

Muitas histórias da vida real nos assustam e entristecem. Alguns episódios de abuso contra crianças chegam a ferir o nosso íntimo. Acuada e ferida, a criança não sabe onde buscar socorro e, a partir daí, começam a surgir graves adoecimentos emocionais.

A pedofilia é um desvio comportamental praticado por pessoas imaturas e adoecidas em alguma área emocional. Elas desejam saciar desejos sexuais com pessoas também imaturas e inseguras. O autor do ato passa a dominar e a não questionar os sentimentos e as consequências dos próprios desejos. São impulsos selvagens, primitivos, sem censura nem sentimentos de remorso.

Os abusos podem ocorrer em todas as classes sociais e geralmente são praticados por pessoas próximas à vítima. Com o advento da tecnologia, muitos casos têm acontecido pela vulnerabilidade a que estão expostas as crianças na grande rede. É preciso pontuar também a precocidade com que elas têm atingido a adolescência, na faixa dos 12 anos.

Os pais não podem ficar acuados nem sem iniciativa diante dos filhos. Investiguem os celulares e as redes sociais; perguntem, conversem, saibam com quem seu filho convive. Isso não é invasão de privacidade; é prevenção emocional! 

Seu filho está começando a descortinar a vida e precisa de orientações e esclarecimentos. Evite os tabus e abra o leque para uma conversa transparente e de acordo com a idade, pois, caso contrário, podem ocorrer grandes atrocidades físicas e emocionais.

Pais, vamos cuidar das crianças no mais subjetivo possível! Estejam atentos ao universo que elas convivem. Em muitos casos, o agressor se passa por ‘boa pessoa', correto, ético, honesto e até mesmo ‘religioso'.

Tenho profunda convicção de que o mundo vai ser melhor quando as etapas forem cumpridas; quando o respeito for acessível; quando a informação for suprida com veracidade. As crianças precisam ser crianças e brincar muito, descobrir a sexualidade no momento adequado e de forma saudável. Pessoas com redução de traumas vão fazer um mundo melhor e serão mais atentas e formadoras de pessoas do bem, com respeito à vida e à dignidade.

Se você suspeitar de algo, busque mais informações, não negligencie uma vida de sofrimentos. Diga NÃO à pedofilia!


                   

                O mundo evolui?

por Angélica Falci
Final de ano muito próximo, e as reflexões começam a borbulhar em nossas mentes. Sempre é bom analisar nossos sonhos, planos, passos, atitudes e dificuldades. Seria ideal buscar uma autoanálise, de preferência ao longo de todo o ano, mas sabemos que é natural que essa intensificação ocorra nesta época do ano.

Refletir sobre questões pessoais é muito importante, mas não é tudo. Abrir os horizontes para valores e para o formato que o mundo está adquirindo na contemporaneidade também pode contribuir para um avanço mental de modo mais intenso. Para você, o mundo evolui de forma significativa ou não? O que vivemos e o que vamos deixar para as outras gerações faz nos orgulhar? 

Precisamos aprofundar essas avaliações. Elas são importantes para que tenhamos real noção do tempo em que vivemos e para que não fiquemos alienados. O não ficar alienado, mas antenado é isto: ter curiosidade, pesquisar, conversar, trocar ideias e aumentar o conhecimento. Precisamos ter percepção do tempo e definir postura e posição mediante o que vamos enfrentando.

É fato que as pessoas estão mais temerosas em manifestar os próprios ideais e pensamentos sob a clássica ameaça de que tudo pode se voltar contra elas. Realmente existe muita intolerância no mundo, mas se posicionar é uma forma de treinar o respeito e a consideração das pessoas com as diferenças. Quando nos omitimos, o sentido da vida se perde um pouco.

Reduzir a perseguição psíquica e se posicionar sobre o que é necessário pode contribuir com o crescimento pessoal, pois assim se exercita a criação, a crítica, as descobertas, o respeito e a tolerância, que passa a ser algo natural na relação com o próximo. Eis aqui o verdadeiro sentido da evolução pelo ajuste emocional.
Vamos acreditar que possamos encontrar e fazer um mundo melhor, evoluído nas questões dos maiores valores e sentimentos. Vamos respirar e inspirar as diferenças e dignificar o outro pelo o que construiu em seu viver. Vamos dizer não à arrogância e à prepotência do mundo, que tenta validar sua ‘verdade' com desamor.

A questão da evolução ou involução está muito presente em nosso dia a dia, mas nossa postura faz toda a diferença. Somos mais fortes quando agimos com humanidade e bons sentimentos.


Pais atentos, filhos confiantes

por Maria Angélica Falci
Construímos nossa consciência de mundo e de nós mesmos a partir do contato e do convívio com o outro. Aí se inclui a família. Essa construção tem duas divisões muito significativas: a biológica e a ambiental. A primeira organiza nossos padrões comportamentais inatos, aprendidos. É sabida a importância química e hormonal para que possamos atingir a maturação.

Já a formação do caráter e das atitudes é influenciada pelo ambiente em que uma pessoa cresce. Em um tempo determinado, a personalidade ganha forma e perguntas como, ‘Como sou?', ‘Como sinto?', ‘Como me posiciono diante da vida e das pessoas?' podem ser respondidas.

A saúde ou o adoecimento desse ambiente é um bom indicador para projetar a qualidade de vida e a saúde emocional das pessoas que estão submetidas a ele. Não existe um ambiente em condições totais de satisfação. Viver em família ou em grupo pressupõe o surgimento de conflitos pela natural diferença de opiniões, concepções e construções sobre a vida. Mas é possível falar sobre ambientes diferenciais na formação positiva da personalidade.

Pais que estão atentos às próprias atitudes e aos bons estímulos podem ajudar de forma eficaz na construção psicológica dos filhos. Esse é um fator fundamental para que as crianças se tornem adultos mais seguros, autoconfiantes e preparados para enfrentar os obstáculos que terão pela frente. Crianças que não fixam muitos rótulos negativos têm maior capacidade emocional para lidar com frustrações e, por isso, tendem a alcançar resultados satisfatórios. 

O mais importante nesse contexto é a avaliação, sempre que possível, da qualidade dos relacionamentos. Em síntese, basta sempre tentar responder à seguinte pergunta: ‘Como é o formato desse ambiente relacional e formador de pessoas?' Muitas vezes, recebemos perguntas que remetem a erros e culpas. Sabemos que quanto antes uma família se organizar, menor será a incidência de transtornos no ambiente. Quanto mais cedo forem feitos os ajustes necessários, maiores são as possibilidades de acerto.

Espera-se maturidade dos pais, não o contrário. A inversão de papéis na constelação familiar pode dar origem a problemas mais graves. O ideal é que os filhos não queimem etapas e aprendam a lidar com os sentimentos para que, no mundo externo, estejam mais preparados e fortes emocionalmente. Mas, como colocado, isso depende especialmente do comportamento dos responsáveis. Portanto, aos pais, uma dica: estejam sempre atentos!


O castelo protetor

por Angélica Falci
Está caindo por terra a ideia de que filhos de pais separados são sinônimo de "problema". Na verdade, os problemas surgem como consequência de ambientes tensos e geradores de adoecimentos. E esse cenário geralmente se forma quando pais imaturos convertem seus problemas e inadequações para o íntimo dos filhos.
Nascemos com forte demanda de proteção e de amor. Construímos esse pilar com os cuidados que recebemos no seio familiar. Os pais precisam entender que uma criança em formação não tem estrutura emocional para participar ativamente das questões do mundo adulto. A criança tem um mundo fantasioso e mágico, necessário para a sua construção. A idealização é um forte conteúdo para suplantar os momentos difíceis. É como um castelo protetor. Posteriormente, com a maturação, a realidade vem mais intensa e clara.

Quando uma realidade pesada atinge o subjetivo das pessoas em plena formação, ou seja, quando o castelo vai se tornando ruínas, muitas vezes identificamos transtornos de ordem psíquica.

Para os pais que decidiram viver separados, é preciso entender que alguns passos são cruciais para a evolução dos filhos. O mais importante é sair do próprio sofrimento (egocentrismo) e enxergar que os filhos estão atentos a tudo. E, além disso, são seres humanos que também sofrem.

Algumas coisas devem ser sempre observadas. É fundamental para a saúde emocional dos filhos que os pais evitem brigas públicas, a rejeição à família do parceiro ou do ex-cônjuge e a desconstrução das figuras paterna ou materna por meio de ataques. Outro comportamento que deve ser evitado é que os filhos sejam usados como mensageiros dos pais em conflito. É indesejável também que os pais tentem ‘comprar' os filhos com bens materiais. 

Os comportamentos inadequados dos pais podem eclodir em uma personalidade sofrida, melancólica e até mesmo depressiva nos filhos. Uma dica a nunca ser esquecida: filhos em formação psicofisiológica precisam dos limites e de cuidados dos pais, e isso independe da história e das escolhas do casal.

Em famílias unidas ou marcadas pelo rompimento, é extremamente necessário que os pais busquem a maturidade para compreender a evolução e a responsabilidade de ter um filho. A segurança não é adquirida unicamente por meio da presença do pai ou da mãe. É preciso estar presente e dialogar. Isso faz toda a diferença para a estruturação emocional da criança. Não deixe de ser o castelo dos seus filhos em hipótese nenhuma.

É muito triste quando uma pessoa cresce com sentimentos de divisão. Portanto, mesmo que os pais sejam separados e não consigam conviver, é importante lutar para que os filhos abstraiam a realidade de forma não danosa. O amor e o cuidado dos pais fazem muita diferença para quando os filhos se tornarem adultos. A redução dos traumas os torna livres para seguirem os próprios caminhos e não ser relutantes na decisão por constituir família. Caso contrário, eles podem ver a relação conjugal e a familiar como lugar de sofrimentos e dores.

Limitar para crescer 

por Maria Angélica Falci
Estamos percebendo o crescimento no número de pessoas dependentes, que não demonstram condições de tomar decisões por elas mesmas e de assumir responsabilidades sem medos. Como pais, precisamos evitar que as crianças cresçam sem coragem de se posicionar, sem ousadia nem criatividade ou se sintam incapazes de tomar decisões e desejem apenas o que é fácil. A desistência acaba sendo o caminho tomado por muitas.
Cresceram com outra postura aqueles que se viram na obrigação de driblar os momentos econômicos conturbados das décadas de 80 e 90 e que saíram de famílias numerosas para conquistar o que hoje têm. Eles deram tudo de si para darem tudo aos filhos. Acontece, entretanto, que dar tudo de material não implica dar educação. Por esse lado, dar "tudo" não é um ato de amor. Muito pelo contrário. Colocar os filhos em uma redoma, satisfeitos em todos os desejos, tem inúmeras consequências.
Ver uma geração de pessoas perdidas, inseguras, sem boas referências, sem atitudes, que esperam muito do outro e expressam pouca resistência é sinal de preocupação. Dar conforto e boas condições de vida aos filhos não é o suficiente; o problema é o engessamento mental. A falta de estímulos do crescimento psicossocial tem um lastro perigoso e, às vezes, irreversível.
Dar limites e amor faz parte de uma construção de valor imensurável. Se você conseguir também fazer com que o seu filho "descole" de você, sinta-se independente, seguro e saiba conquistar os próprios objetivos, comemore! É algo do que se orgulhar.
Muitos sustentam a antiga ideia de "criar bem" os filhos. Mas a criação nem sempre está associada à educação. Içami Tiba, profissional pelo qual tenho grande apreço e que morreu recentemente, frisou em suas obras muitos pontos dessa relação pais e filhos que merecem atenção. Em um de seus livros, ele apontou: "Educar não é deixar a criança fazer só o que quer. Educar dá mais trabalho do que simplesmente cuidar dela, porque é necessário prepará‐la para a vida".
Para construir solidamente a personalidade de uma criança, impor limites é necessário. Caso contrário, a probabilidade de a criança se tornar uma pessoa insegura, fragilizada, vulnerável e dependente aumenta. Acredito que não haja maior tristeza para pais que se perguntam "onde errei?", mesmo tendo dado "tudo" ao filho. "Dei o meu melhor para o meu filho, mas infelizmente o que considerou ‘melhor' trouxe problemas e conflitos de toda ordem", alguns se queixam. Quando a criança não se desenvolve e não há nenhuma questão de ordem neurológica envolvida, geralmente a raiz do problema está no excesso de proteção dos pais.
A minha dica é a seguinte: faça realmente o melhor para o seu filho. Encha ele de muito amor, elogios, ajude na construção da autoestima, mas frise que existem limites e que nem tudo o que ele quer é pertinente ao seu crescimento. Vocês são pais, não o "Gênio da Lâmpada".

Termino com mais uma frase de Içami Tiba. Que fique para reflexão. "E os filhos são como navios... A maior segurança para os navios pode estar no porto, mas eles foram construídos para singrar os mares".

                         

E a tal felicidade?

Sabemos que não existe fórmula ‘mágica' para alcançar a felicidade. Mas componentes bem-ajustados auxiliam a boa construção de si e do modo particular de ver e sentir a vida. A construção dos sentimentos, os registros vivenciais bem-armazenados, os estímulos positivos desde a infância e a organização química hormonal contribuem para isso.

Somos seres individuais e únicos. Similaridades entre histórias de vida e momentos vivenciados podem até existir, mas cada um vivencia suas dores e conquistas de forma singular.

Muitas vezes, refletimos sobre a razão de muitas pessoas passarem por momentos conturbados na vida e ainda assim conseguirem demonstrar paz e felicidade. Da mesma forma, demonstramos curiosidade de saber a razão que leva alguns a se entregarem tão facilmente, diante de situações menos difíceis.

Quero falar aqui sobre o lugar ocupado, que vejo sempre como possibilidades de ser e estar, de realizar e mudar. Ainda que uma pessoa não conte com os estímulos, a presença da família e o afeto adequado, é possível mudar de lugar. A essa pessoa é permitido sobressair e dar um revés à própria história. Para esse entendimento, precisamos compreender que não constituímos sozinhos e que ocupamos lugares passíveis de alterações. O ser é um processo dinâmico.

Estar perto de pessoas com valores e um bom olhar sobre a vida inspira e motiva os que são obrigados a transpor obstáculos. É importante para o indivíduo com viés fortemente negativo se aproximar daqueles que fornecem alegria, positividade e têm aquele brilho nos olhos que saltita e refrigera a alma.

Para alguns casos, faz-se necessário um bom processo terapêutico, eventualmente medicações, quando há desorganização química cerebral. Quando existe certo conformismo diante da situação vivenciada, mais difícil é o processo de recuperação. A partir daí, surge a possibilidade de desenvolver alguns transtornos de ordem psiquiátrica.

Em artigo, o estudioso do comportamento humano Paul Dolan aponta: "cidadãos felizes são mais produtivos, mais saudáveis, mais fortes, mais sociáveis, ajudam mais os outros e vivem até seis anos mais que os infelizes". Essa é uma opinião da qual eu partilho.

Acompanho a pesquisa que baseou a fala de Dolan há alguns anos. São comprovações muito reais de que vale a pena retirar as pedras da mochila vivencial e subir com mais leveza a montanha que leva ao desenvolvimento pessoal.

A tal felicidade? Bem, ela caminha com a estabilidade, principalmente quando ativamos o maior número de áreas positivas possível. O filme ‘Divertida Mente' exemplifica muito bem essas ilhas que vamos construindo ao longo da vida. Vale a pena assistir e refletir.

Resultado de imagem para pessoa triste

Dói, mas constrói

por Angélica Falci
Sentir a dor da perda não é um processo simples. Em algum momento na vida sofremos perdas, desde as mais simples até as mais dolorosas. As reações é que costumam surpreender. Há quem lide bem com elas, mas outras perdem a estabilidade emocional.

Ao escrever sobre as famílias que enfrentam o doloroso desafio de lidar com a perda, gostaria de propor algumas reflexões. O luto é um processo subjetivo, íntimo e não existe tempo para que seja elaborado. Certa vez, em um atendimento, uma pessoa me confessou que evitava falar sobre o assunto pelo fato de ser alvo de críticas e censuras.

A sociedade costuma ser intolerante até mesmo com a dor do outro. Não raramente há a tendência de se impor um tempo para que o enlutado processe a dor, que como disse, é algo extremamente particular. Sofrer por muito tempo é considerado um absurdo, quando o absurdo está em determinar tempo para isso. 

Não existe um tempo determinado para esse tipo de superação. Cada indivíduo tem o tempo certo. Exige paciência e muito amor para que o ‘momento cinza' passe e a pessoa se abra em novas perspectivas. Alguns conseguem lidar bem com a perda porque existe certa preparação psicológica, um entendimento mais profundo no âmbito psíquico sobre os ciclos da vida e, portanto, há maior aceitação. 

Quando não existe esse entendimento, o enlutado pode passar por várias fases em primeira instância, como a negação e a revolta. É evidente que se o indivíduo não caminhar para a aceitação, ele dará lugar aos sintomas psicológicos. A depressão é o maior precedente. A incapacidade de superação aprisiona o enlutado no passado, e o reflexo disso pode ser a amargura e o fechamento em si. 

Preparar-se para a perda é algo complexo: depende de uma abertura psicológica para vencer o tão temível medo da morte. Culturalmente para nós, ocidentais, isso não é algo natural como em outros países. Mas internamente podemos, sim, fazer um grande favor a nós mesmos e encarar a perda como um aprendizado. Apesar de todo o sofrimento causado, ela pode ser um caminho para construções e ajustes, levando a ganhos na vida. Temos que lutar para viver bem e, quando chegar o momento difícil, ter as ferramentas psicológicas necessárias para prosseguir.


        




      Não desperdice amor

Quase sempre, o desperdício está associado a recursos: água, energia, alimentos e por aí vai,... No entanto, quero propor uma reflexão diferente: chamar atenção para o desperdício de uma coisa que também faz muita diferença em nossa vida: o amor.

Já reparou como as pessoas têm desperdiçado tempo com coisas desnecessárias e deixado de lado o amor? Esse bem tem sido jogado para segundo, terceiro plano como se fosse banal. Alguma vez você parou para pensar na seriedade desse esfriamento?

Há muito egocentrismo no mundo e é justamente por isso que devemos pregar o amor e o cultivo de outros sentimentos positivos. Isso, claro, respeitando os polos da razão e da emoção. Esses fatores são muito importantes, mas quando são levados ao extremo, tendem a gerar distorções e conflitos. O ideal é termos os dois de maneira equilibrada. Assim seremos mais focados e centrados, sem exageros.

As exigências atuais, a correria da vida, a busca da perfeição e a própria tecnologia suscitam sentimentos diferenciados e uma visível frieza nos relacionamentos. A questão das prioridades gera conflitos nas famílias.

Precisamos nos adaptar, economizar e evitar o desperdício. Mas as pessoas realmente sabem aplicar isso na vida? Sinto que elas fazem exatamente o inverso: economizam e desperdiçam sentimentos positivos, atitudes de boa ação, respeito e interesse genuíno pelo outro. Além disso, extravasam, ignoram, rejeitam conselhos na fantasia de que a vida terá sempre um curso e que nada de ruim realmente vai acontecer a elas. Muitas pessoas agem de forma irresponsável, com um egoísmo muito intenso. Desculpe-me a sinceridade, mas a necessidade de um mundo mais humano é emergente!

A questão mais grave realmente está no desperdício. As pessoas dão um tiro no próprio pé. Logo ali, a vida cobra tudo com juros altíssimos. A parte emocional, quando não estruturada, faz com que o indivíduo tenha muitas perdas e sofra com as consequências. Isso faz com que seja difícil externar sentimentos bons de forma natural e verdadeira.

Reflita no polo do amor e não seja econômico nesse quesito. Agora, em relação à vida financeira, à água, à energia, preze por um proceder racional para que, no futuro, não estejamos em apuros.
Olhe para mim  

                  

por Maria Angélica Falci


Este mês, escrevo sobre um tema sugerido por uma leitora. Ela pediu que abordasse a questão da tecnologia e os relacionamentos. Então vamos lá! Acredito que a tecnologia assuste muito as pessoas pelo fato de ela contribuir tanto para aproximar as pessoas quanto para reduzir o contato real entre elas.

De duas, uma: é cada um entretido com o celular na mão ou sozinhos no quarto assistindo à TV. É fato que muitas famílias estão sentindo o impacto disso. As pessoas sentem falta do tempo em que se sentavam à mesa, todos próximos de verdade, jogando assuntos fora ou se divertindo com jogos de tabuleiro. Isso é raridade hoje em dia.

As mudanças se refletem no aumento da frieza e da negligência na criação dos filhos. Muitas crianças reclamam que os pais só ficam no celular e nem olham para elas. É muito triste observar essa carência afetiva ganhar espaço. E pensar que o problema poderia ser solucionado com a simples desativação do aparelho,... 

Precisamos, sim, da atenção, do olho no olho, da segurança que uma pessoa passa à outra por estar realmente ao lado dela e interessada no que é dito. Não sou contrária, de forma alguma, à tecnologia. Utilizo-a bastante, mas precisamos entender o reflexo dessa intensidade e o que isso pode gerar em nossos relacionamentos.

Há algo mais importante que viver bem com nossa família e os amigos? Essa é uma reflexão que precisamos fazer todos os dias. Ficar atento a isso é extremamente importante para evitarmos rebeliões internas e até mesmo compulsões que podem atingir os outros.

Ao assistir a um programa de TV, vi o desespero de uma mãe que internou o filho adolescente porque ele não largava o video-game. Era a única atividade do rapaz ao longo de meses. Senti uma tristeza profunda com essa história. É real e muito danoso para o emocional de qualquer pessoa viver dessa forma, imersa em algo imaterial. 

Jogar faz bem para o desenvolvimento neurológico. Os benefícios tecnológicos são diversos: atualiza a pessoa ao conhecimento e ajuda a resolver questões imediatas de forma rápida e eficaz. Mas o excesso vira vício. Todo excesso leva a um extremo que pode danificar o que temos de mais precioso e que muitas vezes não será restabelecido. E, muitas vezes, é necessário um tratamento, da mesma forma que um usuário de drogas necessita de um acompanhamento para se livrar do vício.

Relações destruídas, vícios, afastamentos,..., tudo isso leva a pensarmos na tecnologia como uma arma. Claro que se for bem utilizada, a tecnologia pode ser como uma ponte que dá acesso a caminhos de descobertas. Lembre-se: o extremo condena, mas a ótica bem construída e o bom senso fazem toda a diferença.

Jogando junto

por Maria Angélica Falci
As diferenças que definem homens e mulheres são um tema sempre presente nas rodas de conversa. Por meio da vivência cotidiana e da observação, é possível citar várias características que, ao mesmo tempo que são significativas, podem ser cômicas ou motivos de muito estresse e nervosismo.

O mecanismo de funcionamento cerebral de homens e de mulheres é semelhante, embora haja constatações científicas que evidenciem diferenças anatômicas em áreas específicas e que variam conforme o gênero.


Algumas considerações populares sobre as diferenças entre gêneros são consideradas mitos. Dentre muitas impressões equivocadas, podemos citar a ideia de que homens sejam insensíveis. Acontece que eles não tendem a fixar acontecimentos na memória afetiva. O fato de não lembrarem com precisão detalhes e datas importantes não faz deles seres desprovidos de sensibilidade. Outro equívoco está em pensar que mulheres sejam mais "tagarelas" que os homens. Falar muito ou pouco está relacionado com a personalidade. Isso independe de gênero.


É verdade que os homens são práticos e objetivos, enquanto as mulheres são mais atentas aos detalhes e têm uma memória afetiva de dar inveja. Uma mulher é capaz de lembrar da negligência de um companheiro em defendê-la em determinada ocasião, mesmo tendo se passado 20 anos.  
As mulheres são experts em decifrar a linguagem não verbal. Incluem-se aí olhares e gestos. Já os homens prestam mais atenção à fala. Uma das reclamações mais corriqueiras deles é a de não entenderem o que elas falam. O motivo é muito simples: quando mulheres dizem que está tudo bem, a dica é desconfiar, pois geralmente não está. Isso produz muita confusão mental nos homens, uma vez que eles sentem dificuldades de compreender o que está nas entrelinhas.

Os homens executam as ações de forma mais planejada e cautelosa, pois lidam com menos ansiedade e não gostam de sofrer os sintomas desse sentimento. As mulheres, por sua vez, fazem muitas atividades ao mesmo tempo, lidam com a ansiedade a ponto de convertê-la em combustível para impulsionar seus atos. Um exemplo: se uma mulher insiste em chamar a atenção do companheiro enquanto ele faz a barba, a probabilidade que ele se machuque ao tentar se dividir em dois é grande.

Não adianta resolver algum conflito quando o homem não está pronto e aberto para conversar. O mais adequado é tentar controlar a ansiedade e aguardar o momento oportuno para aquela "DR". Homens precisam de tempo para organizar o ritmo. As mulheres conseguem misturar o pensar, falar, ou seja, fazer tudo ao mesmo tempo.

Ah se as mulheres aprendessem um terço da praticidade e da objetividade dos homens!... E ah se eles ficassem mais atentos e soubessem lidar com ansiedade e estresse como elas!... Cada um pode aprender com o outro, servindo como complemento de muitos ganhos e trocas.


AMOR DOIDO


Falar sobre relacionamentos amorosos nos leva, em primeira instância, a pensar nos relacionamentos saudáveis e ajustados. Infelizmente percebemos o aumento no número de relacionamentos mal-localizados em ações e sentimentos. Alguns casos partem para o passional.

Shakespeare nos deu um grande legado com sua obra. Por meio dela, clareou muito bem o amor que cega, aprisiona e anula. Quando não há a devida correspondência, instala-se o ódio e a possessão. É uma situação tão incômoda que pode respingar até mesmo na família, que vê um ente querido em situação de vulnerabilidade ao ser perseguido pelo apaixonado doente. Torna-se um verdadeiro transtorno e um desconforto emocional.

Sabemos que uma pessoa sem controle emocional e que não suporta a perda não sabe lidar bem com as frustrações da vida. Ela se torna um risco potencial para desenvolver doenças psíquicas, como forte carência afetiva, bipolaridade, depressão, ansiedade generalizada, transtorno obsessivo compulsivo e, em casos extremos, ideações suicidas e homicidas.
Não podemos fazer vistas grossas diante de um relacionamento "doente" que avança com ameaças, explosões agressivas, punições e cerceamentos. É importante estarmos atentos aos pares e às companhias de nossos familiares. É necessário também fornecer apoio e cuidado psicológico para prevenir situações trágicas que deixam marcas severas nos âmbitos pessoal e familiar.

Sabemos que os adolescentes estão aprendendo a se relacionar amorosamente. Essa é uma fase em que todo sentimento é muito intenso e vivaz. Dessa forma, é possível que sejam desenvolvidos quadros de ciúme e até mesmo de uma obsessão patológica.
Aqueles que não forem bem orientados em sua fase inicial podem conduzir sua vida adulta num modo comportamental não aprazível e gerador de muito sofrimento. Observar e prevenir possui um potencial incrível para ajudar neste desenvolvimento. Vamos em frente #amorestavel #amorcordial

 

Retração versus Expansão

Relacionar-se amorosamente é importante e prazeroso. Mas nem sempre estar ao lado de alguém suscita os melhores dos sentimentos. Há quem sofra ao tentar se apresentar, fazer os primeiros contatos ou mesmo manter um relacionamento sadiamente.

A dificuldade varia mediante os traços de personalidade. Existem pessoas muito retraídas, que se fecham com receio de se expor ou incomodar, e, por outro lado, há as 'atiradas', para as quais, em muitos casos, falta bom senso. Como equilibrar? Não ser retraído demais nem inconveniente, invasivo e chato?

Quando o tema é 'relacionamento', é importante analisar esse mundo cada vez mais tecnológico. A internet possibilita encontros, sem dúvidas. Ao mesmo tempo, essa ferramenta contribui para a diminuição dos encontros face a face. Viver a realidade, fora do mundo virtual, é algo que pode trazer muitas barreiras e constrangimentos para os 'acanhados'. A internet é um subterfúgio por facilitar essa socialização. Entretanto, ela limita o aprendizado real. É importante olhar nos olhos, encarar e se sustentar com segurança. Nem sempre é fácil, mas o indicado é não mergulhar somente nessas relações virtuais.

Às vezes escutamos ou confabulamos com nós mesmos que uma pessoa desinibida tem autoestima mais elevada que a do retraído, entendido como inseguro. Essa associação nem sempre é verdadeira. Pessoas expansivas demais podem se esconder neste módulo de comportamento. Por sua vez, os retraídos não são, por regra, depressivos e inseguros. Nosso modo de enxergar o mundo pode ser enganoso. 

Pessoas inseguras e fechadas precisam, sim, trabalhar melhor o autoconhecimento para vencer determinadas barreiras. Da mesma forma, aqueles que são expansivos demais não podem perder o limiar do respeito ao outro.

Não vale vir com rótulos. Cada um tem a sua construção e os seus registros. Se o seu comportamento incomoda, busque se compreender para mudar. Se o seu jeito de ser não incomoda a você e somente aos outros, siga a sua mente e o coração.

O cotidiano em consultório é algo que me fascina. De perto, conheço universos particulares, receios e fantasmas. Ver uma pessoa lutar para modificar traços de comportamento e ir ao encontro dos pontos favoráveis a ela traz grande satisfação. Não importa se o indivíduo é retraído ou expansivo, desde que ele esteja à procura de mudanças. Quem não quer se sentir ajustado, importante; e amar e ser amado? Sentir a vida e fazer valer os sentimentos deve ser um dos nossos principais alvos. 

Aos tímidos em excesso, uma dica: não se entregue ao medo de conhecer e aproximar, fazer amigos e se relacionar amorosamente. Esse é o grande ápice da vida! Aprender a equilibrar é a grande receita psíquica.




Orgulho de ser

por Maria Angélica Falci
Refletindo sobre um possível tema para o artigo da edição que encerra 2014, fui surpreendida pela minha filha, de 7 anos. "Mãe, escreve sobre o orgulho", ela sugeriu. Fiquei pasma e me perguntei o que ela sabia sobre o tema. Lancei perguntas, e mais que depressa ela soltou: "O orgulho faz com que uma pessoa se sinta feliz". Bem, destrinchando então a sugestão dessa pequena mente, vamos tentar entender duas vertentes a respeito do tema.

O orgulho é visto como um sentimento de validação das capacidades pessoais. Ele dá sensação de positividade ao indivíduo diante de conquistas e empenho na missão de atingir objetivos. É como um combustível de autoconfiança, uma forma de elogiar a si. Algumas pessoas consideram o se orgulhar como ato de justiça pelo reconhecimento de existir, realizar, empreender, ser. Por outro lado, visto do ponto de vista ideológico, o orgulho pode ser sinônimo de soberba e arrogância; um mecanismo de pura vaidade e ostentação. 

Esses dois pontos podem realmente gerar muita confusão na aplicação prática do conceito, pois o sentimento tanto pode ser visto numa ótica positiva quanto negativa. Ser uma pessoa muito orgulhosa de si nem sempre é visto com bons olhos em nossa cultura. Mas, do ponto de vista psicológico, ser orgulhoso de si faz, sim, toda a diferença no posicionamento ao longo dos desafios da vida.

Uma pessoa que apresenta orgulho de si nem sempre deve ser entendida como arrogante ou prepotente. É possível seja uma pessoa com projeções mais firmes do que busca e acredita, do sentimento de viver bem e se sentir digna. Portanto, pelo lado psíquico, o orgulho é considerado fator predominante para produzir satisfação e sensações de plena estabilidade. É claro que um orgulho exacerbado pode levar ao egocentrismo, individualismo elevado, à superestimação de si, ao narcisismo patológico, dentre outros problemas.

Mas me atendo ao que sugeriu minha filha, sentir orgulho de ser é um fator determinante para o alcance do sucesso, principalmente nos âmbitos familiar, social e profissional. Sentir-se honrado por conquistas pode contribuir para arejar o interior, afastar negatividades, credibilizar as potencialidades e aumentar a crença na vida.

Quando utilizado com sabedoria, o orgulho traz muitas vantagens, pois se sentir honrado é um sentimento muito forte que permite continuar e sonhar, mantendo os pés no chão.

Que o novo ano possa vir com muito orgulho! Traga esse presente para o seu emocional!  



          

                      Quente ou frio?

por Maria Angélica Falci
Em uma conversa com um amigo, veio à tona o porquê de as pessoas estarem vivendo de maneira morna em vez de se entregar intensamente, ter mais ‘sangue nas veias', positividade e certa ousadia na vida. Fiquei pensando no assunto e me lembrei de alguns jovens que passam pelo meu consultório e demonstram dificuldades de enfrentar o mundo pelo medo de arriscar e sair da própria zona de proteção. No entanto, a questão levantada pelo meu amigo era mais ampla; abrangia também pessoas maduras, que, mesmo com vivências significativas, estão se fechando no próprio mundo, sem alegria aparente.

O que nos leva a escolher uma vida morna? Onde o sorriso é murcho, os olhares são secos e os abraços não se sustentam, são apenas ‘tapinhas' nas costas. Tudo é bem amarelado, sem graça. Quando não se tem objetivos, o que vier basta. Não há buscas nem desafios.

Temos que ter cuidado com a ‘síndrome da indiferença', que tem tomado conta do emocional de muitas pessoas, e do ‘achismo' de que, adotando essa postura, é possível ser feliz, pois não vai haver invasões mútuas. Essa vertente tem suas ciladas e leva ao adoecimento gradativo das emoções. Somos seres humanos relacionais, claro que dentro de uma ‘normalidade', pois somos limitados. Mas enfrentar o mundo sozinho tem muitas desvantagens e a insegurança se torna um monstro voraz.

Não podemos dizer que a felicidade está para alguns mais do que para outros. Viver com intensidade requer cor e sabor, pois o nada, a indiferença, não atrai, não traduz, não reflete e nem inspira ninguém. Até mesmo quem está adoecido em suas emoções, no fundo grita pelo calor de um olhar que brilha, aquece o interior, e ameniza a dor.
A depressão e a ansiedade cresceram muito nos últimos tempos. Não se ouvia falar delas como hoje. Diante das exigências da vida, do medo de errar, de ser criticadas, muitas pessoas têm se paralisado e embarcado numa bolha chamada ‘indiferença'. No entanto, ficar parado é o mesmo que se anular ao olhar do outro.

Acredito que possamos refletir e ajudar as pessoas a se tornarem mais autorais dos seus sonhos, na busca pelo prazer naquilo que traz benefícios, na vontade de arriscar, mesmo que com medo e, de certa forma, sair de uma vida morna, sem alegria, sem sentido. Tomar partido pela vida sempre será o melhor caminho. 

Rir sem motivos e brincar com os momentos são coisas extremamente positivas. É melhor sentir a paz que aquece do que o frio que congela os melhores sentimentos. Gosto do frio, mas do clima. No sentido exposto acima, ele traduz uma vida sem vida.
                                                                                                 

               

                              O Equilibrista

por Maria Angélica Falci
Imagine uma pessoa tentando se equilibrar numa corda bamba. Assim somos nós na nossa luta diária. A vida é feita desse nosso balanço homeostático em busca da estabilidade. É puro movimento feito de contrastes: alegria e tristeza, quente e frio, positivo e negativo,... O nosso organismo também vive em constante movimento: realizamos trocas químicas, acontecem liberações de nutrientes e de oxigênio para nos dar a pressão e o equilíbrio.

Nos últimos artigos, venho ressaltando a importância do equilíbrio interno e externo para que possamos transitar bem na estrada da vida. Sempre que tomamos alguma atitude, estamos envolvidos por uma gama gigante de emoções e noções que adquirimos com o nosso aprendizado. Agir por impulso geralmente promove arrependimentos e ressacas morais, produz danos emocionais e relacionais e, às vezes, leva ao adoecimento.

Devemos buscar uma capacitação intencional e consciente, focada na atenção e nos próprios atos para nos dar maior probabilidade de perceber e controlar pensamentos, emoções e sentimentos diversos. Agir de forma coerente com nossas intenções racionais produz benefícios imensuráveis.

Muitas vezes, o ego pode ‘passar um saldo de cartão de crédito' que o organismo não vai poder ‘pagar'. Lidar com falhas e fracassos não é simples. Portanto, treinar seu compartimento cerebral e suas habilidades subjetivas proporciona um maravilhoso equilíbrio interno. O resultado disso pode ser a redução dos pensamentos que ficam brigando na mente. O excessivo diálogo interno retira os desejos e as aspirações e provoca um cansaço mental pela aceleração de pensamentos e pela culpa diante da falta de controle.

Alguns transtornos são visíveis. As pessoas diagnosticadas perdem rapidamente o controle emocional e ficam chateadas pela exposição à qual se submetem. Tudo fica ainda mais difícil sem a medicação e o tratamento psicoterápico de que necessitam nesses casos.

Se você apresenta uma boa percepção da vida e tem um bom condicionamento emocional, fique atento ao seu equilíbrio. A corda é bamba, mas podemos encontrar um caminho para nos estabilizar.

O atleta que treina pode se tornar um campeão. Nós também podemos treinar nossas habilidades emocionais e nos tornar mais que vencedores diante do maior desafio que há: viver com menos conflitos e relacionar harmoniosamente consigo e com as pessoas ao redor. Uma corda bamba serve para o nosso amadurecimento e nos conduz a um platô, local onde podemos descansar com o sabor da vitória.

               
                             
   Nosso pranto nos salva

Assim como no último artigo, gostaria de continuar a discutir o papel das emoções em nossas vidas. Chegou a hora de entender como algo natural pode ser tão poderoso a ponto de nos poupar de sofrer com algumas doenças.
Neste artigo, quero falar sobre um comportamento que muitos evitam para não se sentir expostos: chorar. Há se soubessem o quanto isso faz bem! Sim. Chorar pode trazer um enorme benefício ao nosso bem-estar físico e psicológico. Segundo William Frey, bioquímico da Minnesota University dos Estados Unidos, o choro “pode salvar vidas porque ajuda a evitar doenças”.

Quando estamos sob o efeito de grandes tensões, o pranto serve para exterminar substâncias tóxicas acumuladas em nosso organismo. O pranto libera lágrimas com os hormônios corticotropina e prolactina, cujos níveis aumentam quando estamos estressados. O choro libera também o manganês presente em altas doses no cérebro dos deprimidos. Estudos apontam que grande parte das pessoas se sente muito melhor depois de desafogar a tristeza e a ansiedade após um choro intenso.

Sabemos que, culturalmente, os homens choram bem menos que as mulheres. De acordo com as estimativas, eles choram sete vezes ao ano, enquanto, no mesmo horizonte temporal, elas vão às lágrimas por 47 vezes. A vivência prática em atendimentos respalda os estudos.

Sou completamente favorável à liberação das emoções por meio do choro. Considero esse ato uma ‘limpeza da alma’, em que, além de eliminar as toxinas, as pessoas conseguem desanuviar a consciência. Elas também obtêm um espectro mais claro dos problemas que estejam enfrentando.

Chorar é necessário porque traz clareza das emoções e libera o que está reprimido e incomoda. Externar o que se sente não é algo que faz de você uma pessoa fraca. Pelo contrário: torna você uma pessoa que vive intensamente as emoções.
Uma pessoa que chora constantemente por diversos motivos precisa, sim, ser observada. É possível que ela esteja doente no mais profundo das emoções. Isso não implica, no entanto, algum diagnóstico mais severo. É necessária uma avaliação diferencial para o quadro.

Nesta correria em que vivemos, no ligeiro passar do tempo, muitas vezes não temos tempo para nos analisar e buscar entender o que estamos sentindo. Muitas vezes, assistindo a uma propaganda, uma lágrima rola em nossa face. Algo toca o nosso interior. Nesses momentos, não se contenha. Deixe rolarem as lágrimas. Libere o que você sente. Não guarde, mesmo que você se sinta envergonhado. Saiba que colocar o que sente para fora tem mais valor do que reter. Viva suas emoções!

            


                        Montanha russa

                                                        por Maria Angélica Falci
A mera imaginação de estarmos prestes a ingressar em uma montanha russa é capaz de nos fazer projetar sensações que vão do prazer à aflição. O fisiológico se altera em questão de segundos.

As mudanças de humor são comuns a todos nós. Sofremos de certa ‘bipolaridade de sentimentos'. Afinal de contas, estamos vivos e propensos aos altos e baixos da vida. Experimentar esses sentimentos contrastantes é normal, guardadas as devidas proporções. É diferente do que vivenciam os diagnosticados com o transtorno bipolar. Neste artigo, quero me ater à nossa ‘montanha russa emocional' tida como normal.

Emoção é uma experiência de ordem subjetiva que está ligada ao nosso temperamento, à personalidade e à motivação. Podemos dizer que são as emoções que nos motivam a transformar desejos em realidade. Elas são o combustível que potencializa hormônios e inunda de sensações o nosso sistema límbico.

As emoções podem ser diferenciadas dos resultados delas, pois cada pessoa se comporta e reage de acordo com a própria estrutura emocional.

Sabemos que a chamada inteligência emocional tem sido muito valorizada. Pessoas que apresentam controle e sabem valorizar suas emoções são mais bem sucedidas e aceitas facilmente por determinados grupos. 

O controle emocional, que conduz à sonhada inteligência emocional, é, sim, um comportamento aprendido. O avanço da idade pode ser um fator natural de vivências positivas e algumas a serem evitadas. O nosso ‘amigo' mental tenta sinalizar os riscos. A maturidade sugere maiores cuidados. Se isso não acontece, é necessário atenção. É possível que o indivíduo apresente algum transtorno de ordem mental.

É incrível quando jovens buscam maior controle emocional e o aplicam em seu cotidiano. A partir daí, passamos a perceber grandes transformações: aumentam a autoestima e autoconfiança, apresentam maior resistência diante das frustrações, passam a ser mais disciplinados, acentuam o senso de responsabilidade e respeito ao próximo e são mais tolerantes com as diferenças. Tornam-se pessoas mais sensatas, diferentemente do que presenciamos quando há o predomínio de uma geração que demonstra completa falta de limites e de bom senso.

Sempre costumo sugerir: ‘Vamos cuidar da nossa mola mestra?' Pois é ela que faz pulsar a vida e organiza o nosso fisiológico. A emoção bem-cuidada é um fator muito poderoso e transformador das relações de que necessitamos para nos sentir amados e valorizados.

Vivemos muitas vezes numa montanha russa de sentimentos, mas aprender a estabilizar traz benefícios gigantescos. Então, que tal? Vamos aprender a cuidar da nossa mola mestra?

             

                             ‘Barco furado’

                                              por Maria Angélica Falci

Viver com pessoas duvidosas e que mentem desperta diversos sentimentos. Quando constatamos que alguém se comporta assim, acabamos desenvolvendo reações que vão da compaixão até a absoluta aversão àquele indivíduo. Afinal, para alguns é insuportável se relacionar com pessoas que agem dessa forma. Estudos apontam que há três tipos de mentiras. Duas são gravíssimas, e uma, totalmente desnecessária: a mentira por conveniência. Essa é uma prática rotineira para justificar um ato inadequado, um atraso ou uma falha boba. Por isso, é supérflua. Mas quem a usa não é forte o suficiente para assumir isso.
A segunda desculpa é a mentira compulsiva, fruto de um transtorno mental. Esse desvio coloca o indivíduo em risco constante de se expor e de orbitar um universo ‘tragicômico’. A pessoa passa a viver sem a menor credibilidade. Quem mente de forma compulsiva não consegue falar a verdade. Por isso, desenvolve vários conflitos em seus relacionamentos. Muitos transtornos potencializam essa estrutura emocional e comportamental.
A terceira mentira é chamada de ‘mitomania’. As pessoas que a sofrem têm um distúrbio gravíssimo e se envolvem integralmente nas mentiras, criando cenários totalmente factíveis. Elas vivem naquele universo fantasioso como se fosse real e são capazes de inventar situações e descrever locais com riqueza de detalhes. Esses indivíduos são convincentes e persuasivos. Seria como uma pessoa sem estudos e com poucas possibilidades de crescimento dizer que é muito rica e que viveu anos nos Estados Unidos em um haras particular. Para dar veracidade à história, pegam fotos de outros, estudam lugares, arquivam informações de terceiros e se apropriam delas. E, assim, muita gente é envolvida nessas mentiras porque essas pessoas se expressam com exatidão. Elas acabam embolando a vida emocional e financeira e levam outros indivíduos para o seu ‘barco furado’.
Pessoas assim pretendem ser aceitas e valorizadas. Como a realidade delas não se aproxima da ideal, elas passam a construir um universo particular. Essa é uma realidade cruel, que traz constrangimentos para o sujeito e seus familiares. A insegurança e a pouca autoestima são as principais características do mentiroso compulsivo ou mitomaníaco. Eles geralmente desenvolvem um discurso de autopromoção porque creem que somente assim serão aceitos ou respeitados. Mas a maioria não move uma palha para conquistar esse lugar.
É preciso viver a realidade sem fantasias mirabolantes; buscar um lugar ao sol com esforço e determinação; lutar para modificar as condições de vida, caso não esteja feliz. Mas também é necessário sonhar com foco na realidade. Aqueles que não conseguem absorver nem colocar em prática esses requisitos precisam de ajuda urgente. Uma vida fantasiosa leva à autodestruição. Saia desse ‘barco furado’!

Perseguidor de si

por Maria Angélica Falci
Diariamente muitas pessoas relatam uma enorme preocupação com a forma como os outros vão pensar ou agir em relação a elas. Esses indivíduos sentem medo e ficam acuados com um simples olhar. Pessoas assim refletem uma forte insegurança e muito desconforto em diversas situações. Elas sentem receio de se expor e ficam aflitas apenas por imaginar que vão ter que se posicionar em determinados momentos.
Mas, geralmente, o que acontece? A insegurança é um fator natural do ser humano. Esse sentimento encontra suas raízes no desenvolvimento primário, principalmente na infância, com suas nuances de formação. Famílias mais estruturadas emocionalmente oferecem condições para que os indivíduos das novas gerações cresçam mais seguros e autoconfiantes.
Isso não acontece quando algumas famílias tratam seus novos membros como incapazes para encarar certos desafios. Essas crianças acabam expressando um sentimento de inferioridade que se manifesta por meio do bullying familiar. As famílias adoecem seus membros ao atribuir a esses indivíduos rótulos negativos. A frequência com que eles são inferiorizados leva essas pessoas a aceitar esse ‘carimbo’ para suas vidas. E isso traz uma série de desconfortos emocionais.
Alguns indivíduos inseguros desenvolvem fobia social, ansiedade generalizada e síndrome de pânico. Essas manifestações ocorrem em decorrência de uma intensa desproteção psíquica a que esses indivíduos são submetidos. Para uma pessoa insegura, encarar os outros passa a ser um desafio monstruoso. As demais pessoas passam a ser sempre melhores e maiores. É fácil encontrar pessoas que não precisam de ninguém para incomodá-las nem persegui-las. Esses indivíduos exercem a ‘autoperseguição’. Eles recebem esse título porque aprisionam suas vidas com medo de tentar, encarar, posicionar, enfrentar ou assumir a própria identidade. Pessoas assim sentem medo de não ser aceitas. Por isso, elas se escondem e desenvolvem sintomas. E assim manifestam um sofrimento solitário capaz de estremecer a vida emocional.
É muito importante que as famílias tenham consciência do próprio comportamento e que os pais observem os filhos com o maior zelo possível. Afinal, as palavras e os gestos marcam a infância e geram registros por uma vida inteira.
Palavras positivas e elogios não fazem mal. Pelo contrário: são importantíssimos na fase de formação dos filhos. Sejam crianças, sejam adolescentes, eles precisam ter autoestima para estabelecer uma vida adulta mais saudável. Os adultos também precisam de atenção para que possam viver e agir de forma segura. Sentir-se bem, com a autoestima elevada, é um dos maiores combustíveis para uma vida estável e confiante. A mudança acontece inicialmente dentro de nossas casas! Acredite nisso. 

 Gritos de Socorro
Por Maria Angélica Falci

Estive recentemente em um programa de TV. Fui convidada para falar sobre a violência contra as mulheres, os resultados do levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Copa do Mundo.
Perceba o quanto essas questões estão interligadas. Para os brasileiros, as mulheres se insinuam por meio de roupas e atitudes, conforme aponta a pesquisa. Assim (segundo eles) elas criam motivações para serem violadas em sua integridade física e mental. É notório que a violência no Brasil ainda mantém contornos patriarcais. Os homens podem ser – e muitas vezes são – blindados em seus atos grotescos e primitivos. Um exemplo disso é o estupro. Nesse ato, alguém viola a intimidade do outro sem que lhe seja dada a permissão. Desse confronto, surge uma invasão física e mental. As consequências ao emocional do dominado – envolvido nesses atos selvagens, sem nenhuma lei nem respeito ao desejo do próximo – tendem a ser diversas.
E a Copa do Mundo? Esse é um momento de muita euforia em que instintos tendem a se aflorar de modo geral. Nesse período, aumentam as possibilidades de crianças e adolescentes desaparecerem, de gritos de socorro não serem ouvidos e de a violência – principalmente contra as mulheres – crescer muito. A Copa pode deixar as pessoas em estado de êxtase, como se vivessem sem regras nem controle. Sugiro aos pais e às famílias que fiquem atentos aos seus filhos. Todo cuidado será pouco.
Subiu o índice de mulheres violentadas no país. Muitas delas conseguem relatar o seu desespero. Mas, em geral, elas não conseguem sair de uma situação lastimável causada por questões financeiras ou por laços amorosos nocivos. Muitas mulheres têm consciência do quanto são mal tratadas e machucadas intimamente. Mas, com o passar do tempo, geralmente perdem as forças para lutar e precisam de ajuda para sair de um novelo repleto de dores, gritos, angústia, depressão e ausência do prazer de viver. Essas mulheres são vítimas do estupro mental e físico.
É preciso retirar as vendas dos olhos e mudar o discurso. Não dá mais para admitir a seguinte ideia: “isso não acontece na minha casa nem próximo de mim”. Sabemos que não importa a classe social. Diariamente muitas crianças e muitos adolescentes de diferentes faixas econômicas são vítimas de violência no seu ambiente social. Elas ficam caladas porque o grito delas geralmente é sufocado pelo dominador; não recebem ajuda porque muitas pessoas as ignoram e as retaliam.
É necessário estarmos atentos e prontos para ajudar o próximo. Fazemos parte de uma sociedade e devemos zelar pelo bem-estar dela. Como cidadãos, precisamos sempre dar o nosso grito contra a violência para que esse mal caia por terra. Se ninguém se omitir em relação ao que acontece ao seu redor, muito será feito pelas crianças e para os adultos que passam por essa dilaceração de si.


                   


  A guerra que não evito

                                                        por Maria Angélica Falci
Por que muitas pessoas desejam viver a tão sonhada paz, e fazem o inverso? Por que tantos indivíduos dão um ‘tiro no próprio pé’? Escutamos muitos relatos, queixas e dificuldades quando observamos as pessoas do nosso convívio. Muitos se dizem focados em promover mudanças em suas vidas. Mas o que geralmente vemos é a fixação do indivíduo em zonas emocionais nas quais ele deseja transformar. Entretanto, pouco ou nada se esforçam para isso.

Ter foco é se concentrar nos objetivos e caminhar em direção à busca de resultados. É algo bem sistêmico. O foco não foi feito para ser fixado na mente nem a criar a ilusão de estar contribuindo para uma mudança. Ter foco é agir com atitude e dar passos largos rumo às transformações. Os registros inconscientes geralmente contribuem para essa fixação nociva. Em sua maioria, essas marcas foram experiências pouco prazerosas, mas que, de alguma forma, ajudam a ligar o ‘alerta psíquico’. Assim, fazem com que a pessoa deseje a mudança, mas continue imóvel.

Escutamos relatos – muitos convincentes – de que a pessoa está fazendo X e Y para modificar suas zonas de conflito. Mas, por diversas vezes, a realidade mostra o contrário: uma intensa fadiga por nadar contra a maré. Uma pessoa que deseja se libertar de sua ‘guerra emocional’ geralmente tem consciência da própria vontade, mas não encontra forças para agir. Por isso, sintomas, como a angústia constante e a depressão, surgem como uma avalanche.

É fundamental termos a consciência de como queremos chegar a uma determinada situação e o que fazer para evitar o desassossego. A tão sonhada paz interior não é uma utopia. Ela pode ser conquistada e sustentada por muito tempo. É óbvio que existem fatores externos que influenciam nessa manutenção. Mas a forma como se conduzem as situações faz toda a diferença. Então, por que parece tão complicado e distante ter foco e agir ao mesmo tempo?

Ora, o ser humano tem certo prazer de absorver alguns conflitos. A afirmação pode soar estranha e até mesmo incoerente, mas tem seu fundo de verdade. Em vários casos, um registro mal-localizado passa a valer como verdade, trazendo ganhos secundários para a pessoa. É que em muitas situações, o indivíduo pode intensificar seus conflitos para obter o olhar, a atenção e a vitimização do outro, sentindo-se, assim, ‘confortável’.

Mas é bom ressaltar: sair da ‘zona de conflito’ traz ganhos muito maiores e duradouros. Além disso, controlar as emoções e não criar expectativas ousadas em relação ao olhar e à forma como o outro o valoriza sugere o encontro com a paz interna. Ser amado, valorizado e aceito faz parte da constituição humana. No entanto, esse processo deve ser natural e leve. Não force a barra! Faça um favor a si mesmo e não intensifique sua guerra emocional. Isso trará frutos grandiosos para o seu caminhar.

                                     Redes afetivas

por Maria Angélica Falci
A modernidade trouxe consigo uma ferramenta poderosa: as redes sociais na internet. Essa eloquente descoberta serve tanto para construir, aproximar e orientar, quanto para destruir, caso seja mal utilizada.

Por meio das redes sociais, bons contatos podem ser estabelecidos, e a solidão, aliviada. As redes ainda dão aos seus usuários o prazer de reencontrar amigos da infância ou de conhecer pessoas de outras culturas e indivíduos que as façam pensar sobre si. Essas redes têm ajudado, inclusive, pessoas deprimidas, retraídas e com fobias sociais a se soltar e a encarar novas possibilidades de viver.

De fato, sobram casos positivos de uso das redes sociais. Inúmeras pessoas constituíram famílias por meio desse instrumento. Outras mudaram de país e estabeleceram novos contatos pela rede. Até casais frios e distantes se reaproximaram com ajuda das mensagens e de postagens afetuosas trocadas pela internet.

Como se vê, cada pessoa tem os seus motivos ao utilizar as redes sociais. Esse uso varia de acordo com a estrutura emocional, demanda e pontuações individuais. Mas o que não se altera é o crescente uso da ferramenta, simultaneamente ao aumento da violência.

Sabe-se que o universo virtual carrega diversas ciladas. Mergulhar num mundo de fantasias pode ser uma delas, sobretudo se esse universo se distanciar muito da realidade do indivíduo. Quando isso ocorre, o sujeito começa a lançar mentiras de toda ordem. Pessoas com transtornos mentais e emocionais fazem de tudo para ser aceitas e valorizadas. É aí que mora o perigo! Essas redes escondem, a princípio, o caráter e a real situação de muitos indivíduos que aparentam normalidade.

A carência, a sensação de rejeição e a grande insegurança de algumas pessoas podem produzir situações violentas e risco à vida dos envolvidos. Pessoas assim apresentam dificuldades de perceber o desajuste do outro.

Sempre ouço perguntas do tipo: “Como alguns casais lidam tão bem com sua vida real e virtual, sem entrar em conflitos?” ou “Por que alguns vivem em guerra constante?”.

É preciso avaliar a saúde emocional da relação. Ela geralmente é sinalizada a partir do início de um convívio. É essencial entender o valor que rege essa relação e a estrutura emocional dos envolvidos. Se a relação se norteia pela confiança e pelo respeito, são grandes as chances de o casal continuar unido, mesmo com alguns deslizes. Caso a relação seja pautada por desconfiança, insegurança e desvalorização, as consequências serão inúmeras. Começam pelo ciúme e pela obsessão patológica - aquele sentimento de posse que leva a pessoa querer vigiar constantemente o outro. Isso faz com que ela adoeça e viva sempre em alerta. Pessoas assim tentam manter uma relação falida.

Avalie sua vida! Evite conflitos que não lhes deixem em paz.

O nosso olhar de cada dia

Desde a antiguidade clássica, os gregos são conhecidos pelo comportamento vaidoso e pela abertura à diversidade de relacionamentos. Em relação aos estudos da ciência humana, a atitude atípica influenciou socialmente o mundo inteiro. A partir desse comportamento, surgiram termos, como o narcisismo, o eros, a onipotência e a perversão.
A cultura – conjunto de modos, hábitos e saberes – interfere em nossa formação desde o nascimento. Ela faz caminharmos sobre uma tábua imaginária a ser preenchida pelas linhas da vida. Ao longo do tempo, observamos mudanças culturais significativas e é fato que elas permeiam nossos relacionamentos.
Seria interessante abrirmos a mente e percebermos como olhamos as pessoas.
Por que cada vez mais prevalece o julgamento sobre o outro e a percepção do individualismo? As pessoas precisam se enquadrar em um modelo de perfeição inatingível como se fossem ‘deuses gregos’ na Terra? Em busca de idealizações fantasiosas, esses indivíduos podem agredir o outro com observações grosseiras, falas que machucam ou simplesmente com o olhar.
Uma pessoa fora do dito ‘padrão’ – por ser muito magra ou gorda, alta ou baixa demais – pode ser alvo de bullying. A prática dilacera os sentimentos de indivíduos com estrutura emocional frágil.
Há aquelas pessoas fortes e bem-resolvidas, que não se preocupam muito com o olhar nem com o julgamento do outro. Elas têm sua psique bem-trabalhada. No entanto, a maioria dos indivíduos se mostra sensível e revela dificuldades para digerir o que escuta e para lidar com o olhar dos outros em relação a eles.
Se, por um lado, os jovens estão se preocupando cada vez mais com a vaidade e o bem-estar, por outro, grande parte deles tem péssima alimentação e hábitos nocivos à saúde física. De modo geral, eles fixam apenas no superficial: a incoerência entre desejos e atitudes, conforme observou a minha amiga Andréa Lemos. Daí a importância de orientá-los.
As ‘pessoas superficiais’, as PS, sempre existiram. Mas, nos últimos tempos, a proporção delas na sociedade cresceu assustadoramente. Trata-se de um grupo que se aproxima do outro por seus atributos físicos, como se isso complementasse as limitações da ‘pessoa superficial’ e fizesse dela alguém mais benquista. Por isso, as PSs buscam se relacionar somente com pessoas que façam parte de um setting de beleza e julgam constantemente as imperfeições alheias, fixando o olhar apenas nos atributos externos de um indivíduo.
Muitos vão concordar que pessoas assim precisam organizar melhor seus valores e projetos de vida. Elas necessitam descobrir o que realmente importa. E nada melhor do que ter verdadeiros amigos por perto: pessoas que saibam reconhecer, admirar e respeitar as diferenças. O restante faz parte de hábitos que precisam ser lançados, de preferência, para bem longe!

                              


A mudança "nossa" de cada dia

por Maria Angélica Falci
O que realmente importa em cada ciclo da nossa vida muda de geração para geração, de cultura para cultura e de pessoa para pessoa.
Mas o que importa saber é como formamos os componentes que ajudam nos processos de mudanças.
Por que mudar é algo tão complicado para tantas pessoas? Por que para algumas é tão fácil tomar certos caminhos e para outras esse objetivo parece ser tão distante e impossível?
O tempo em que vivemos faz com que cada vez mais as pessoas estejam pressionadas a ser perfeitas e imaculadas naquilo que executam, quase que como se esquecessem de que somos humanos e cometemos erros.
Essa exigência feroz que presenciamos do “mundo perfeito” produz um medo massificado e faz com que as pessoas cristalizem sua ousadia, criatividade e vontade para sair de certas zonas de conforto nocivas. As consequências disso são sintomas, como frustração, ansiedade elevada, acomodação e angústia pelo medo de errar.
Muitas vezes, assumir posturas que promovam mudanças nos 
famosos “nós cegos” não são somente necessárias, mas cruciais 
para que uma pessoa se sinta realmente bem em diversas áreas, sobretudo do ponto de vista emocional.             
Entender os registros de vida de uma pessoa, sua formação familiar e seu temperamento clareia pontos paralisados pelo medo intenso de prosseguir.
Cada pessoa apresenta registros latentes desde a infância que interferem nesse processo. Portanto, em vez de julgar a superficialidade, seria interessante buscarmos compreender a profundidade de cada um. Temos sintomas que nos paralisam e geram medo, a não ser que exista uma patologia mental grave que anule essas conexões. Mas, dentro de uma normalidade, encontraremos pessoas mais aptas e com coragem suficiente para vencer certos desafios e outras com menos aptidão e mais apatia.
Seria também pertinente observar os sonhos. Uma pessoa que sonha acaba construindo projetos mais realistas e coerentes com sua existência, diferentemente das pessoas fantasiosas que vivem a 
construir ideações e utopias. Essas pessoas sofrem muito porque não realizam. Elas apenas se prendem a um mecanismo que gera prazer momentâneo e sem sustentação.
Componentes para produzir mudanças estão presentes na libertação do perfeccionismo, do controle dos registros internos que, quando trabalhados mentalmente, produzem grandes avanços. 
Esses componentes também estão nas construções chamadas “pés no chão”. Nessas construções, os sonhos prevalecem sobre as fantasias.
Neste novo ano que inicia, que tal praticar essa reflexão?


 

Criticar para crescer

por Maria Angélica Falci
Segundo alguns filósofos, a crítica serve para estimular o pensamento e levar as pessoas a reflexões. Trata-se da dúvida ou da discordância que surge antes de validar ou não certas questões. Kant descrevia a crítica como ‘a arte de discernir' e o ‘exame aprofundado da validade e dos limites da capacidade do homem'.

Sabemos que julgar ou rotular o outro é um dos atos mais instantâneos da nossa mente. Mas a verdadeira crítica vai além do ato de julgar. Deveria contribuir para o crescimento psicossocial, mas culturalmente deixou de ser assim. A crítica se tornou algo nocivo, que maltrata e faz adoecer. Por que isso ocorre?

O ato de falar algo com razão, propriedade e profundidade sempre deve ser avaliado antes da exposição da própria opinião ao outro. Pessoas não preparadas para receber determinadas palavras, muitas vezes, sentem-se profundamente desconfortáveis ao perceber, por meio de terceiros, que o caminho tomado por ela eventualmente não é adequado. Mas em grande parte dos casos, mesmo não sendo bem recebida, uma crítica conduzida de forma correta pode ter um potencial incrível de produzir efeitos de muitas mudanças e novas construções.

Podemos dizer que os resultados que as críticas podem produzir dependem da forma como são feitas. O sentido positivo da crítica se perde quando ela é exposta em momentos de instabilidade e sob o domínio da raiva. O que deveria ser um conselho passa a ser um xingamento, uma rotulação, um julgamento desnecessário. Portanto, até para criticar é necessário entender a motivação implicada nesse ato. Se não for para fazer o outro pensar, refletir e discernir, deixou de ser crítica.

Eis a diferença: criticar é um ato de amor, não um ato de destruição. As sociedades passaram a considerar o termo ‘crítica destrutiva', mas volto a dizer: o termo ‘criticar' implica construção que leva a uma evolução. A crítica é capaz de produzir verdadeira interiorização analítica dos pensamentos, da conduta moral, das produções artísticas e intelectuais.

Neste novo ano, deveríamos fazer críticas com amor, menos julgamentos e muito menos rótulos devastadores. Aprender a se colocar no lugar do outro e ajudar nas verdadeiras construções emocionais produz benefícios impensáveis para quem pratica.

Que, em 2014, possamos produzir construções inteligentes com adequação, respeito e integridade moral. Hoje em dia faltam pessoas que verdadeiramente se preocupem com o bem-estar dos outros e tenham zelo com suas palavras e atitudes.


 

Por que não?

por Maria Angélica Falci
Ao fazer algumas avaliações sobre a administração do tempo, percebi o quanto dizer ‘não' é difícil para muitas pessoas. Analisando a questão pela ótica cultural, é possível chegar a uma resposta para esse comportamento. Somos um povo muito solícito e, quase sempre, queremos agradar ao outro antes de a nós mesmos.

Esse traço nos diferencia das pessoas de outras culturas. Em alguns momentos, essa tendência pode ter seu valor, mas se for um ato constante, a solicitude exagerada pode trazer inúmeras dificuldades na construção e na validação da própria pessoa.

Quem tem esse comportamento apresenta necessidade elevada de aceitação. A situação pode resultar em certa anulação de si mesmo - sentimentos de inferioridade e de inadequação. Em alguns casos, o indivíduo é conduzido a uma frustração gigante na vida.

Quem não tem facilidade para se posicionar acaba desrespeitando suas prioridades. A pessoa cria dificuldades desnecessárias para si e luta muito para atender às próprias demandas. São indivíduos que correm riscos constantes de não atingir objetivos pessoais por causa do tempo que gastam na solução dos problemas dos outros.

É muito importante fugir do individualismo. É necessário olharmos as necessidades alheias, mas nunca podemos deixar de analisar o encaixe das situações adversas mediante as questões pessoais.

Planejar-se individualmente e respeitar o próprio ritmo são aspectos fundamentais até mesmo para que se consiga dar apoio a um conhecido, quando isso se faz necessário e possível.

A pronúncia do ‘não' precisa ser entendida como algo natural, possível e previsível em vez de ser interpretada como resposta ofensiva, um desprezo ou egoísmo de quem diz. Bom seria se fosse prática social fazer o seguinte questionamento diante de problemas: a solução para esse impasse pode estar no outro, nesse momento?

As pessoas que demandam muito do outro não querem perceber nem sentir. Na maioria dos casos, são verdadeiros egocêntricos, que não se sujeitam ao ‘não'. Em alguns momentos, causar certa frustração nesses indivíduos pode produzir mudanças na percepção e até mesmo amadurecimento analítico.

Preze pelo seu bem-estar, pois uma pessoa sempre disposta a atender às demandas alheias acaba projetando nela mesma dores físicas, ansiedade elevada, mau humor, atraso em todas as prioridades, dentre outros sentimentos e problemas.

Projete seu tempo com muito cuidado. É necessário estar bem para atender o outro. Lembre-se da regra: dentro do avião, a instrução, em caso de acidente, é colocar a máscara de oxigênio primeiro em você.

                 


Cadê o conteúdo?

por Maria Angélica Falci
O que ocorre nos dias atuais que não se discutem os conteúdos e sim os rótulos? Sabemos que, desde sempre, existem as segregações que se apoiam no tripé preconceito (rótulos), estereótipo e estigma. É um círculo vicioso como um vagão de trem que puxa o outro até a marca final chamada "estigma". Uma pessoa estigmatizada tem inúmeras dificuldades em sua vida.

Ocorre geralmente assim: nascemos num lar e, em pouco tempo, começam os famosos "rótulos", principalmente referentes à parte evidente e mais conflituosa.

Se os rótulos forem frequentes, vão se estabelecer até nascer o estigma. A pessoa pode até lutar para ser diferente e transformar alguns aspectos de sua vida, mas infelizmente as outras pessoas vão tender a vê-la sempre daquela forma. Para essa pessoa sobressair e mudar de lugar é necessário um tremendo esforço.

Como consequência dessa situação, as pessoas estigmatizadas ficam marginalizadas, com características menos nobres e, para piorar, grande parte passa a acreditar que não vai conseguir mudar nem sair desse estágio. Elas perdem as forças para lutar contra rótulos primitivos e negativos.

Uma criança precisa do ambiente familiar sadio para receber amor e orientações. Essa condição não é para ser colocada pra baixo com a força de uma âncora, como se não houvesse possibilidades na vida. Se o rótulo fica forte, diversos problemas vêm como uma rede, pois a própria criança foi estimulada a acreditar que ela é preguiçosa, bagunceira, insensível, egoísta, etc.

Quando chegam à adolescência com esse estigma, geralmente essas pessoas tendem a ser mais tristes. E elas são fortemente lançadas no lugar em que foram colocadas, pois as pessoas não as observam como seres humanos que sentem, sofrem e desejam, mas como pessoas cobertas de características nocivas.

O estigma sugere um rótulo fixo. Esse rótulo desqualifica as pessoas, que passam a ser vistas somente pelos aspectos negativos. Geralmente, não pediu que fosse assim e luta muitas vezes uma vida inteira para rejeitar.

As consequências são variadas. Os estigmatizados vivem com forte insegurança, angústia, dificuldades diversas para estudar, aprender, agir e se relacionar. Mas o pior visto em atendimento são os que, quando conseguem se desenvolver, tendem a repetir a fôrma com os filhos.

Em vez de fortalecer o que não é considerado adequado, tente visualizar os pontos fortes para que eles fiquem ainda mais fortes em você, nas pessoas da sua família e nos seus filhos. Rejeite os rótulos negativos constantes e não subjugue as pessoas próximas e importantes para você. Podemos, sim, até ter bons rótulos como vinhos de boa safra e produtos de boa qualidade. Caso contrário, rejeite-os.


Irmãos amigos

por Maria Angélica Falci
Falar sobre esse tema é prazeroso. A amizade entre irmãos é mesmo muito bonita. Consideramos uma imagem agradável aos olhos e ao coração assim que percebemos uma relação saudável entre irmãos. Sabemos que os laços potentes parecem ter nascido prontos em algumas pessoas. E em sintonia fina, singular e natural. Mas, infelizmente, o que observamos, em geral, são as rivalizações.

Não seria falta de amor nem inimizade. Tem a ver com as relações subjetivas entre eles, com a construção da personalidade e com os estímulos familiares. Tem ligação direta com o relacionamento dos pais na posição de casal e com os exemplos dados por eles como cuidadores das crianças.

Sabemos que "pais equilibrados" geram crianças emocionalmente saudáveis. Esse é um tema muito complexo que envolve uma constelação de fatores. Mas vou me ater à discussão de que é no ambiente familiar que se formam pessoas saudáveis ou massacradas por rótulos negativos. As relações familiares podem salvar ou adoecer as emoções de seus membros.

Perceber atitudes e jogos emocionais latentes pode amenizar sentimentos diversos entre os filhos. Dentre eles estão inferiorização, despredileção, ações extravagantes para obter o olhar e o zelo dos pais, depressões, sentimentos de menos-valia, competição acirrada, etc.

Todos esses sentimentos são estimulados conscientemente ou não pelos próprios pais. Muitos relatam que gostariam que os filhos fossem unidos, mas acabam por estimular sentimentos nocivos entre eles. Muitas vezes, trata-se de uma corrente constante do que viveram anteriormente e que cai na repetição. Mas sempre é tempo para refletir e mudar o caminho...

É muito importante que os irmãos sejam estimulados, desde a primeira infância, a sentir a importância um do outro. Sentimentos como a cumplicidade podem, sim, ser desenvolvidos e ampliados ao longo da vida. A amizade é um terreno fértil e é espelhada pelas ações dos pais. É importante que existam ações de confiança, de ajustes, mesmo com os desentendimentos, pois é na vida familiar que se formam os maiores treinos para a vida social, amorosa e profissional.

O bom exemplo vem das vivências inconscientes. Caso se perceba que as coisas não estão seguindo por um bom caminho, sugere-se buscar orientação para a melhor condução.



                           Amigos como irmãos 

                                                        por Maria Angélica Falci

Por que será que hoje em dia escutamos tanto que as pessoas não confiam em ninguém e que podem contar nos dedos as verdadeiras amizades? O que acontece num tempo que deveria ser de maior interação, mas, pelo contrário, as pessoas se sentem tão sozinhas, mesmo com todo o aparato virtual, relacional, psicológico, etc.?

Algumas pesquisas apontam que a amizade auxilia a saúde, o bem-estar, o avanço da carreira e até mesmo prolonga a vida. Saber que se pode contar, em qualquer momento, com alguém que nos reveste de uma proteção psicológica é algo divino.

É verdade que ter um amigo verdadeiro e confiar suas intimidades é algo bem complicado. Mas quando se encontra essa pessoa, a vida se torna mais leve, e a presença terapêutica também passa a existir. É que não se trata simplesmente daquele "amigo" com quem se diverte ou trabalha: é alguém que se importa, que se coloca no seu lugar e dá toques sinceros pra você diante de situações adversas.

É verdade também que existem mudanças com relação aos laços amistosos. Alguns especialistas afirmam que a amizade passa por grandes transformações. No passado, a amizade e a diversão aconteciam fortemente nos lares e nas festas de família fechadas. Não havia a demanda por fazer grandes amigos fora do ambiente familiar. Atualmente os parentes têm os próprios problemas, certa frieza nas relações e não reforçam tanto esses encontros nem a amizade sincera. A companhia e o afeto dos amigos se tornaram então um refúgio: lugar de bem-estar e prazer. Com isso, a amizade toma grandes proporções na vida, pois precisamos dos relacionamentos; somos seres relacionais.

Amigo para ficar junto sem fazer nada ou fazer coisas juntos, divertir, trocar vivências e conforto nos momentos difíceis tornou-se algo de extremo desejo em tempos de aceleração e de forte individualismo. Eles são mesmo importantes, irmãos do coração e funcionam como uma válvula de escape, porque lidar com situações difíceis sozinho é pesado demais.

A amizade nos ensina a lidar e a aceitar as diferenças, embora, muitas vezes, esse seja um processo de tremendo esforço. Confiar sem medo de ser traído, expor sem barreiras, abrir sua vida sem resistência, tudo isso apresenta um grande fator terapêutico.

Portanto, mesmo que sejam poucas, procure sempre regar suas amizades. Mesmo com algumas divergências, cultive-as, busque harmonizar. A amizade é de um potencial produtivo imensurável, pois ajuda a evitar a depressão, a solidão, a ansiedade e a autodepreciação. Reflita!


                        Edição 49 

Primeiro Amor                                                           por Maria Angélica Falci

Nascemos com uma grande capacidade de amar e de abrirmos a nossa emoção ao outro. Somos dinâmicos e plásticos em nossos sentimentos. Mas o nosso sistema social sinaliza uma dinâmica sociofamiliar com tendência ao esfriamento e à distância relacional. E isso implica restrições de afetos e das maiores expressões emocionais. Até a espontaneidade da primeira infância está se deteriorando com as exigências da modernidade.

Percebe-se uma tendência inibitória muito ativa. Existem muitas famílias com mecanismos relacionais nocivos latentes ou manifestos. Esses mecanismos escancaram-se rotineiramente. É nesses modelos que a criança vai se refugiando em um mundo fantasioso que o impede de amadurecer de forma saudável. Então fugir da realidade se torna o maior aprendizado. 

Muitos valores se transformam; outros são banalizados. Mas e o amor? E aquele amor sereno, sublime, calmo e verdadeiro que produz a segurança necessária para desenrolarmos durante a nossa vida. Aí se inclui o amor entre pais e filhos, amigos, casais, familiares, etc. É prioridade narcísica sentir-se amado, valorizado, aceito. O impulso destrutivo geralmente começa, quando o íntimo de uma pessoa se torna um pântano devastado pela falta de afetos.

Viver numa sociedade ativa, moderna, com muitos aparatos tecnológicos deveria ser bem aproveitado. Mas infelizmente as convivências têm gerado diversas consequências nos relacionamentos. Muitas pessoas estão com prioridades indefinidas ou mal-localizadas. 

É importante parar e refletir sobre a forma como você está conduzindo seus sentimentos; como você se importa com o outro e se a expressão de afeto dentro de si está apática ou não. É sempre bom pensar a respeito do nosso potencial de empatia e ter todo cuidado para que o egocentrismo não se torne um gigante e nos apague em nossos relacionamentos.

O que vivemos hoje em dia aponta para uma sociedade que valoriza o que as pessoas têm. Aí se incluem status, fama, dinheiro, posses e não a forma como as pessoas se relacionam, como produzem suas trocas afetivas. É um bom momento para cada um refletir e retornar àquele primeiro amor, momento da troca terna e sincera, do amor pela vida, pela simplicidade de ser e entender que nascemos e temos uma temporalidade. Portanto, é muito bom quando valorizamos as boas trocas nas relações que agregam de verdade. 

Promover um caminho relacional depende muito mais de você do que do outro. Exige consciência, sabedoria e trabalho de autoconhecimento. Reflita!

Edição 48

Ruas do tempo

por Maria Angélica Falci


Todos os dias quando acordo,
não tenho mais o tempo que passou
mas temos muito tempo
temos todo tempo do mundo.

Todos os dias antes de dormir,
lembro, esqueço como foi o dia.
Sempre em frente
Não temos tempo a perder.

Renato Russo

Perguntamos sempre por que o tempo, às vezes, é tão injusto, cruel e insano. Será? Muitas pessoas passam uma vida reclamando do tempo em que vivemos, da falta de tempo, do envelhecimento que o tempo nos traz e por aí vão...

Realmente vivemos uma aceleração do tempo fora da ‘normalidade'. As pessoas estão vivendo no automático, sem sentir nem perceber muitas essencialidades ao seu redor. Mas não percebo o tempo como vilão. Pelo contrário. O tempo bem vivido será um reflexo de grandes e doces lembranças na idade mais avançada, em que um coração sem muitas lamúrias vai viver bem até o final do seu tempo. O que ocorre com muitas pessoas é o alimento emocional inadequado de um passado malresolvido, conduzindo a patologias progressivas. A depressão, por exemplo, é uma doença do tempo. Essa patologia tem o poder de impregnar no passado da pessoa e de não permitir que ela avance. A depressão cristaliza raízes nocivas e impede a pessoa de sentir e vivenciar a beleza do tempo.

A grande verdade é que o tempo não para (como dizia outro poeta). Mas o que fazer com a angústia que as transformações do tempo acarretam? Amadurecer não deveria ser um peso, mas um processo de elaborações que nos ensinam a enxergar a vida com mais leveza e menos acidez.

A gente muda a pele, o cabelo, o corpo, mas a mente não deveria ser enfraquecida nem reduzida com o tempo. A mente deveria ser sempre ativada por bons pensamentos e sentimentos. Assim torna-se possível, em qualquer idade, manter o fôlego da vida e das descobertas, pois quem para não acompanha o seu tempo e perde, principalmente, a própria estabilidade.

Digo sempre às pessoas que atendo: ESTABILIDADE é, sim, o termômetro da felicidade. Se uma pessoa fica estável em grande parte do seu tempo, pode-se dizer sobre a felicidade dessa pessoa. É evidente que o tempo vai trazer estresse, mas precisamos aprender a entrar e a sair desses momentos de profundo desconforto. Aprender a não permanecer.

Não podemos interditar nossas ruas, não fazer reformas quando surgir a necessidade, nem simplesmente arrancar o trânsito de nosso tempo pelo medo do avanço e do que está por vir. Vamos encarar o tempo como aliado; um caminho com jardins adornados. Que o encantamento pela vida cresça como uma rua de passos estáveis e sensações que transmitam êxtase do brilho pueril e certo bucolismo, e que venha a serenidade e a sabedoria diante das ruas cheias de buracos.

Edição 47

 Só desejar não realiza

por Maria Angélica Falci

Muitas pessoas se assustam com o tempo em que vivemos. Algumas dizem que não veem mais TV, pois as notícias são as piores possíveis. Outras reclamam que o mundo está um caos, que ninguém se coloca no lugar do outro, que não existem leis decentes,... Os adeptos desse discurso passam a viver com desejo de residir em outro país, de alcançar mudanças no modo de viver, de serem pessoas mais seguras e estáveis. Mas sabemos que o desejo por si só nunca levou ninguém a lugar nenhum.

É verdade que vivemos um tempo diferenciado em relação ao de nossos avós, quando o que era considerado "socialmente aceito" e "valores corretos" não corresponde aos parâmetros atuais. A sociedade passou por mudanças culturais perceptíveis nos últimos anos. Isso é inegável. Vivenciamos mudanças drásticas em todas as áreas e, principalmente, na nossa forma de ver e nos relacionar com o mundo. Tudo aconteceu de maneira muito rápida. A vida é muito dinâmica, muda constantemente, mas geralmente sobra o intenso medo de mudar, de dar o famoso passo de ousadia.

Por que resistimos tanto às mudanças? Penso que o medo não seja a principal justificativa, embora tenha potencial para nos paralisar. É importante entender que a inércia, a imobilidade, além de trazer sérias limitações, fazem com que haja um somatório de sintomas negativos, como angústia, inadequação, medo do fracasso, vergonha social, dentre outros. Se uma pessoa encara seus conflitos se paralisando para não sair da zona de conforto, ela precisa entender que, na verdade, ela está é potencializando seus conflitos e criando maiores obstáculos para impedir o avanço.

Perceber que as mudanças são necessárias assusta, gera receio, medos e fantasmas mentais, mas a evolução do seu potencial só será possível a partir dessa permissão. É essa permissão que nos dá credibilidade para prosseguir e enxergar que existem muitas possibilidades, criatividade e deliberações que podem mudar uma situação intranquila para um momento de real estabilidade.

O autocrescimento precisa ser vivenciado. Não é teórico, de ouvir falar. É algo interno, subjetivo e que produz benefícios de diversas ordens. Pense sempre que ao invés de resistir às mudanças logo de cara, é importante analisar, identificar, planejar e "partir para o abraço" que te espera na saída da zona de conforto. Um forte abraço da própria vida.

O Livro Quem Mexeu no meu queijo, de Spencer Johnson, enfatiza, de forma criativa, a capacidade que temos para vencer as dificuldades. Ensina que cada um de nós é responsável pelas escolhas, sucesso ou não, mediante as tomadas de decisão. Portanto, pare de justificar, de insinuar que o outro é responsável por você não conseguir e se coloque como autor principal da sua vida.

Edição 46

Espelho, espelho meu

por Maria Angélica Falci

Vivemos numa cultura lipofóbica (medo de engordar). Muitas pessoas estão desenvolvendo o que é chamado de dismorfofobia. Nesse distúrbio, o que o paciente pensa e sente a respeito de sua aparência não é compartilhado pela opinião geral. Ele não enxerga que é normal e tende a insistir na ideia de que é fisicamente disforme, inadequado. Assim ele resiste fortemente a qualquer intervenção ou elogio.

Esse distúrbio começa geralmente na adolescência à medida que ocorrem as mudanças corporais e emocionais. O deslocamento para a vida adulta precisa ser saudável para que a pessoa não tenha esses sintomas que crescem assustadoramente. 

É muito difícil tratar a dismorfofobia. O paciente resiste a aceitar que tem o problema. Em geral, ele usa a justificativa de que é vaidoso e, numa fachada, passa a se considerar muito zeloso com a imagem. No entanto, o distúrbio é fonte de intenso sofrimento, angústia e solidão.

O tratamento é feito com psicoterapia longa e muito trabalhosa. Muitas vezes é necessário o uso de medicamentos para tentar obter o ajuste dos sentimentos depressivos que acompanham o quadro.

O maior prejuízo é a autodepreciação. E o quadro pode evoluir para a autodestruição. De forma consciente ou não, a pessoa tende a criar riscos para si: ingere medicamentos por conta própria, passa por consecutivas intervenções cirúrgicas, inicia uma malhação contínua e excessiva (vigorexia), desenvolve aversão total ao alimento (anorexia) ou elimina o alimento recém-ingerido na ideia de se sentir melhor fisicamente e em paz com o espelho (bulimia). Esses problemas geram até mesmo risco de morte.

Essa grave distorção que o paciente tem da própria imagem pode levar à falência dos contatos sociais, com sérios prejuízos familiares, profissionais e afetivos. O campo do prazer pode passar a inexistir, tornar-se uma obsessão até que a forma ou a aparência do corpo se torne completamente "bizarra".

A cultura lipofóbica contribui fortemente para a distorção da imagem corporal. Gera gordos que se sentem magros e magros que se veem como gordos. A relação com o corpo pode ser considerada um dos maiores problemas atuais. "A baixa autoestima também é um grande fator de risco para o desenvolvimento de uma vulnerabilidade para com os aspectos socioculturais" (Myers, 1998).

Observe o seu comportamento. Procure conversar a respeito e a compreender melhor os sintomas da dismorfofobia. Não deixe que esse desconforto se agrave em sua vida. Existe tratamento, e o sofrimento pode ser amparado, quando aceito em sua raiz de desdobramento. O afeto envolvido nessas questões da autoimagem é relevante para que a pessoa consiga evoluir.

Edição 45

O ápice da gulodice


A compulsão alimentar traz muitas consequências, atinge pessoas de todas as idades e torna a vida mais pesada em todos os sentidos. Especialistas geralmente entendem a compulsão alimentar como um mecanismo compensatório que implica uma progressão viciante.

Quando os alimentos são deliciados fortemente, o cérebro registra imediatamente uma sensação muito prazerosa. E se no momento da degustação ocorre uma associação entre algo estressante e o alimento, aos poucos esse processo pode desencadear uma dependência. Pode ser que o alívio da sensação de desprazer seja obtido por meio do alimento ingerido, quase sempre, de forma muito rápida e exagerada. Essa busca pode ser desenfreada, ainda que a pessoa não tenha vontade. É como se ela perdesse o controle.

Nesse estágio, é comum se sentir subjugado pela culpa e pela vergonha. Muitos recorrem à medicação por conta própria para contornar a situação e readquirir o equilíbrio. A partir daí é acionado o sinal laranja: "Perigo!". Muitas pessoas não percebem inicialmente, mas o aumento do peso começa a gerar mal-estar. Raros são os que buscam ajuda. Quando o processo avança para ansiedade elevada, humor deprimido e vergonha social, aí, sim, elas partem à procura de algum tipo de orientação.

Uma pesquisa americana relata que muitas crianças são obesas ou apresentam sobrepeso pela falta de limites e por carência afetiva. Elas ficam sozinhas, sem direção e alimentam de forma compulsiva para aliviar a ansiedade e o medo que sentem pelo abandono emocional. Com o andar da carruagem, as crianças passam a formar barricadas de proteção em si mesmas, a se esconderem no próprio corpo e, o que é pior: desenvolvem o adoecimento mental.

O médico francês Dr. Pierre Dukan, autor do livro Eu não consigo emagrecer, aponta uma opinião de que eu compartilho. "A maior necessidade de uma pessoa com sobrepeso é uma vontade exterior à sua. Precisa de um líder que ande à frente e dite as regras, pois o que uma pessoa nessa condição não suporta é simplesmente não saber decidir sozinho o dia, a hora e os meios de suas privações", expõe.

Portanto, pais, cônjuges ou profissionais da área: é muito importante entendermos o afeto envolvido nas questões alimentares. Não é punindo, xingando nem massacrando o emocional que se alcança bons resultados. Eles virão com o apoio e a ajuda para que o indivíduo consiga liderar suas decisões e mudanças de hábito.

Revista Mais Noivas

PAIXÃO X AMOR AMADURECIDO

Por Maria Angélica Falci

Muitas pessoas questionam os motivos que levam às mudanças após o casamento. Como profissional da área e atuante com alguns casais, é evidente que muitos destes gostariam de retornar ao objeto do desejo inicial e ao que chamamos de paixão. Um desejo ardente que geralmente apresenta um tempo aproximado de até dois anos. Sua extensão ideal seria chegar ao ‘Amor Amadurecido’ que reconhece no outro um profundo prazer em compartilhar e construir juntos um projeto de vida. Ao contrário da paixão que provoca ações eufóricas e enxerga perfeição e idealização apenas.
O Amor Amadurecido ensina que é preciso ceder em muitas questões pessoais, deixar de olhar os desejos internos e focar no que será um bem comum. E é na vida diária que os meios de condução procuram o melhor caminho; São as descobertas das atitudes assertivas, qualidades, de certos defeitos e manias, e aquelas que se persistirem serão perigosas para a relação. Procure identificá-las antes mesmo do casamento e procurem entrar em acordo para evitarem futuros conflitos. Não convém agir separadamente, tomar decisões individuais que são importantes ao casal e evitem uns dos pontos que mais machuca a parte emocional: Desconsiderar o outro em suas opiniões.
É fato que o período de adaptação é uma das fases mais complicadas em todos os casamentos. Até mesmo para aqueles casais que se consideram muito sintonizados e com anos de namoro. Uma fase que chamamos de “ajuste das arestas”, que poderá durar em alguns casos até mais de um ano. O ajuste será proveniente às questões culturais, comportamentais, afetivas, financeiras e de costume de ambas as partes.
A vida de casados é uma intensa parceria de amor e que não tende a esfriar ou diminuir com os anos quando ocorre um Real deslocamento da paixão para o ‘Amor Amadurecido’.
Indico um livro interessante aos casais, um livro que trabalhamos em atendimento e se chama: “As cinco linguagens do Amor”. São páginas emocionantes de exemplos vivenciais que apontam que todos nós apresentamos uma forma de receber e entender que somos amados, temos uma linguagem natural e aprendida em nosso histórico de vida e é muito enriquecedor quando entendemos a nossa linguagem, conhecemos a do nosso cônjuge e externamos este amor de modo simples e genuíno. Quando uma pessoa realmente se sente amada, valorizada, respeitada é como que o seu tanque de amor nunca ficasse vazio, melancólico e no modo: “desespero” pela sensação de abandono e desprezo do cônjuge.
Procurem sempre perceber o que agrada o outro, não caiam na mesmice, não se fechem em um casulo, vejam as possibilidades de realizarem juntos momentos preciosos para que com o passar dos anos este amor não venha extinguir lentamente.
Deixo uma orientação conhecida por muitos e praticada por poucos. Sabemos que a longevidade de um casamento é medida pela capacidade de diálogo entre o casal. O mutismo é destruidor e também fortalecedor do orgulho humano. Aprenda a eliminar e a construir um casamento com muita sabedoria, conversas agradáveis e boas risadas ao longo do percurso. Coloquem VIDA na relação que estão buscando.


Edição 44

InvejaDOR

por Maria Angélica Falci
Falar sobre a inveja pode ser polêmico, mas é necessário clarear sobre esse primitivo sentimento inerente à natureza humana. O neurocientista japonês Hidehiko Takahashi, do Instituto Nacional de Ciência Radiológica, em Tóquio, publicou estudos reveladores sobre o tema na revista científica americana Science. De acordo com o material, a inveja estaria localizada na mesma região cerebral da dor física, e o sentimento de contentamento diante do infortúnio alheio, ligado ao prazer. "Quando a sua conquista é a minha dor, a sua dor é a minha conquista", conclui o pesquisador.
Podemos ir adiante e dizer que, além de provocar emoções dolorosas, a inveja danifica o estado físico e emocional de quem a sente. O sentimento fragmenta relações, dilacera famílias e promove um profundo desconforto. Geralmente a inveja está associada a frutos de forte insegurança e baixa autoestima. "Ao mesmo tempo em que o ciúme é querer manter a todo custo o que se tem e a cobiça é desejar aquilo que não lhe pertence, a inveja é não querer que o outro tenha".
É difícil pensar que uma pessoa possa se sentir realizada com a não conquista do outro, mas é comum identificar esse sentimento, principalmente em pessoas com proximidade de faixas etárias, profissões similares e pertencentes ao mesmo nível socioeconômico.
A inveja pode ser relacionada com dois campos: construtivo e destrutivo. O construtivo permeia o campo da admiração, do desejo de parecer com alguém bemsucedido e alcançar o sucesso. Serve como uma mola para o crescimento. Nesse campo, a pessoa não deseja o infortúnio do outro e não faz nenhuma ação contrária. No entanto, essa é uma linha tênue que precisa ser trabalhada na mente e estruturada para que a pessoa se sinta bem sendo ela mesma e com gratidão por suas conquistas, mesmo que sejam diferentes do que foi idealizado.
Quando essa linha é ultrapassada, chega-se à inveja destrutiva. Aí mecanismos de autodestruição e ações contrárias podem ser comuns. A pessoa passa a ter ideias fixas, revoltas gritantes, depressões graves, agressividade extrema e possibilidade de autoextermínio e atos conscientes ou não contra si. Nesse estágio, essas pessoas podem armar, manipular, difamar, perseguir, torturar, caluniar e até desejar a morte.
Salvo exceções, as pessoas geralmente apresentam possibilidades reais de vivenciar ou eliminar a inveja. É um sentimento primitivo, mas não estático, que pode ser trabalhado e eliminado da mente. Quando uma pessoa se sente bem consigo, gosta das suas escolhas, torce verdadeiramente pelas conquistas alheias e se satisfaz com facilidade, ela geralmente tende a sentir menos inveja.
Portanto, sua trajetória de sucesso pode estar bem ao seu lado. Foque em você, siga bons exemplos e encontre o seu lugar.

Edição 43

Inimigo público

por Maria Angélica Falci
O mau humor é considerado um inimigo público. Além de trazer muitos danos para a própria pessoa - por aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e reduzir a imunidade, o potencial de concentração e a análise crítica -, o sentimento atinge, ao mesmo tempo, as pessoas que circundam o mal-humorado, contamina ambientes e maltrata as relações em demasia.

Existem algumas situações que realmente tiram da pessoa o bom humor. Em geral, os motivos são decorrentes de conflitos de diversas ordens: profissionais, conjugais, familiares, financeiras. Elementos circunstanciais, como mudanças climáticas e trânsito caótico, também têm o poder de alterar o humor.

O sentimento surge em grande parte das pessoas. Mas, se você apresenta uma constância de mau humor, precisa tomar cuidados. Em muitos casos, isso pode sinalizar sintomas de transtornos mais graves, como a distimia, ciclotimia, depressão acentuada, bipolaridade, dentre outros.

Pessoas que ficam constantemente sob o domínio do mau humor provocam reações fisiológicas e ambientais. O organismo delas libera uma cascata de hormônios prejudiciais, pois fazem com que a mente fique em alerta no nível máximo, levando o corpo à exaustão. Consequentemente as pessoas que circundam o mal-humorado são levadas a participar de um ciclo nocivo e cansativo, pois lidar com pessoas irritativas, amargas, negativas e agressivas, que criam muitas fantasias e laços perigosos, é algo ameaçador ao bem-estar ‘público'.

Porém, pessoas que aceitam a realidade de seu estado emocional e se esforçam para se livrar do mau humor alcançam momentos mais intensos de satisfação. Sabemos que não é um processo fácil, mas é necessário ter em mente que existem possibilidades. É preciso ter disciplina e desenvolver a capacidade de monitorar as atitudes constantemente. 

Os que conseguem maior controle emocional relatam que o "céu é o limite", pois passam a sentir a vida sob controle e assim vivem com bem-estar, têm sensações de felicidade e as relações ajustadas.

Vale a pena investir em você. Procure neutralizar o principal combustível do mau humor: os pensamentos negativos. São eles que tornam o dia pesado, com vários desconfortos e contrariedades.

Muitas vezes vivemos rodeados de pessoas e situações que nos levam a ver somente o lado ruim da vida. Fuja, evite, delete da sua vida situações que não agregam e faça um grande esforço para não se tornar excessivamente crítico e poliqueixoso com a sua vida. Neste novo ano, adote posturas mais otimistas e realidades concretas e possíveis.


Edição 42

Cheiro familiar

por Maria Angélica Falci
É bem verdade que esta é uma época em que as pessoas estão envoltas por sentimentos de diversas ordens. Para o ano que se prenuncia, há o desejo e a expectativa por algo novo. Por outro lado, é necessário deixar o que não deu certo no ano que passou. 

Que tal expandir na mente a imagem da mesa farta e dos presentes sonhados para colocar no lugar sentimentos mais valiosos? 

Entender que existem pessoas diferentes e aceitar as diferenças é o início de uma vida mais estável e de uma noite feliz. O simbolismo do Natal é muito conhecido. Pode ser "retrô" para algumas pessoas, mas, ainda assim, a família é o maior esteio da vida. 

Mesmo que em alguns lares não exista harmonia, paz e um relacionamento saudável, sabemos que no inconsciente, dentro de cada ser humano, a família exprime os pilares mais almejados e conduzem à sensação de proteção e segurança no "mar agitado" da vida.

Agora que começamos a tecer, pode surgir o seguinte questionamento: será por que tantas pessoas não conseguem se harmonizar nesta época? Penso que há um turbilhão de fatores envolvidos. As festas de fim de ano são consideradas o momento mais importante de todo ano. Os ritos devem ser seguidos à risca. Há que se decidir onde, como e com quem passar Natal e Réveillon e quais presentes comprar,... Esses muitos conflitos acabam azedando a beleza do cheiro familiar, pois muitas vezes são marcados por um estresse tão violento que as pessoas adoecem em vez de curtir os momentos. 

Infelizmente alguns dão até mesmo a sensação de que o mundo vai acabar e precisam fazer em poucos dias tudo que não foi feito ao longo de todo o ano. Outro ponto delicado são as pessoas que não conseguem esquecer momentos complicados e alimentam intensamente as vivências sofridas nessa época. Há também aquelas que guardaram durante anos alguma mágoa e aproveitam o momento para colocar tudo para fora.

O que acontece com as famílias, quando, o que era pra ser harmonia, transforma-se em desastre familiar? Na verdade, posso contribuir com algo importante e que, se for refletido, pode gerar muitos benefícios durante o caminhar da vida: abra as emoções como uma criança, sinta o cheiro do Natal novamente, pois esse período está no âmago das pessoas que preservam a infância dentro de si. 

Com certeza, você vai conseguir dar mais leveza à sua vida, ter relações satisfatórias, com mais transparência e, o melhor: ter uma noite com "gostinho" do cheiro familiar. Mude o foco, veja que a vida precisa ser resolvida e não embrulhada em problemas. Desejo um ano de 2013 com cheiro familiar por 365 dias.


  
                                Edição 41

                      Pai nervoso, mãe estressada

                                                 por Maria Angélica Falci
A chegada de um filho quase sempre traz consigo uma série de mudanças na rotina do casal e no relacionamento marido - mulher. O estado emocional dos pais, por exemplo, pode ficar abalado. Pai e mãe ficam estressados, nervosos, ansiosos e muito sensíveis. É necessário maturidade e um olhar sensível para o casamento não ruir diante de uma verdadeira avalanche de emoções.

Essa fase inicial precisa ter um desfecho satisfatório para que a criança cresça de maneira saudável, e sua formação emocional não seja comprometida pelo clima pesado de um casal com emoções "à flor da pele". Os pais precisam de muita sabedoria na condução, a ponto de mudarem esse quadro de total estresse, pois suas emoções e ansiedades certamente são sentidas pelos filhos. Como dizem: "eles captam no ar".

Quando um filho inicia sua caminhada em um lar de pessoas muito alteradas, nervosas e estressadas, dificilmente ele sai ileso a tudo isso. Pode acabar desenvolvendo sintomas bem parecidos. Geralmente passam a agir de forma irritativa e agressiva na escola, na casa de familiares e em todos os polos sociais. A criança tende a repetir o que vivencia em casa e, o que é pior: passa a considerar normal agir dessa forma.

Quando um ambiente familiar é marcado por um lugar de intolerância, gritos, xingamentos e punições, a criança pode desenvolver traumas que vão desencadear uma adolescência e uma vida adulta com registros nocivos e uma profunda dificuldade nos relacionamentos afetivos, sociais e na área cognitiva.

Em atendimento, assistimos a muita repetição nociva na criação dos filhos. Pais que passaram isso com seus pais, repetem o que viveram, muitas vezes de forma inconsciente, e não reconhecem o estrago emocional que causam aos filhos. Quando a situação começa a clarear, eles ficam perplexos diante do que descobrem e muitas vezes tentam corrigir a tempo.

É muito importante que os pais tenham clareza de que os filhos são como extensões deles mesmos, que estão atentos aos exemplos que lhe são dados e que a personalidade em formação depende muito do ambiente em que as crianças vivem.

Mesmo quando os pais passam por situações complicadas, é necessário buscar soluções para evitar que o filho possa se sentir envolvido, acuado, agredido e culpado por questões que não fazem parte da vivência deles. Afinal, eles estão aqui, muitas vezes, por um desejo do casal. Precisam, sim, ser bem direcionados em seu caminho, amparados e suportados em amor; não em agressão.

Edição 40


                              Mãe, cadê meu pai?

por Maria Angélica Falci
É fato que a cada ano cresce o número de mães que chefiam lares sem a companhia e o apoio da figura paterna. Ocorrências existem em todas as idades produtivas - seja pelo inesperado, seja por mulheres que optam pela produção independente.

Sabemos da importância de uma família bem-estruturada, com suas funções definidas. Até mesmo de forma inconsciente, o pai tem um papel formador na construção de valores e caráter. É o que chamamos da "Lei do pai". Mas e quando a figura paterna inexiste? O que fazer? Muitas vezes é preciso que a mulher tenha os pés no chão e saiba se posicionar perante o filho para criá-lo com valores sustentáveis e muito amor, sem interferência da angústia materna.

Em grande parte, o que ocorre é uma dificuldade da mulher de lidar com a ausência. Tornam-se mães atingidas pela amargura, com não aceitação da separação e com rancor
da figura masculina. Essa junção de fatores pode acabar por desenvolver conflitos na percepção e na formação emocional da criança.

Filhos com percepções assoladas pelas angústias maternas podem desenvolver dificuldades de relacionamento por associarem a imagem do pai à de uma pessoa que causou muito sofrimento à mãe. Isso pode interferir no relacionamento do pai com a criança ou até mesmo influir no desejo dela de ter uma família.

Ser mãe sozinha tem, sim, sabores e dissabores. Alguns especialistas revelam que filhos bem criados pela mãe sozinha tendem a ser pessoas bem-relacionadas, sensíveis e amadurecidas. Isso, quando uma mãe tem os requisitos dentro de uma "normalidade" de bons valores e boa conduta. São mães que não fazem referências negativas nem compartilham suas mazelas emocionais com aquela pequena pessoa em formação, que pouco pode fazer para ajudar.

É muito importante que as mães busquem ajuda para si ou para seus filhos, quando a situação fica insustentável. É quando se percebe que não é possível dar conta sozinha, quando a melancolia surge, quando o filho se angustia e não for possível vivenciar certos questionamentos e preconceitos da sociedade.

Uma mãe sozinha não pode deixar suas aflições tomarem conta do desenvolvimento do filho. Ela precisa entender que não pode aguçar sentimentos negativos. É fundamental ter a vida social ativa, ter pessoas próximas, familiares que possam ajudar a preencher esse vazio e ser um modelo e bom exemplo para a criança.

É preciso ter uma autoestima adequada e muita força interna para enfrentar as perguntas e curiosidades dos filhos. De forma geral, é preciso manter sempre a verdade numa dosagem que a criança possa elaborar e digerir. Isso é fundamental para que ela cresça de maneira saudável, sobressaia em relação ao desconforto emocional e desenvolva um futuro promissor em todas as áreas.

Edição 39

Onde você está

por Maria Angélica Falci
A partir deste mês inicio uma pequena série sobre questões que envolvem o universo do desenvolvimento infantil. Nesta edição, o assunto é a agressividade. Muitos pais questionam esse tema e suas motivações. É evidente que não existe um fator específico, mas sabe-se que, quando são descartados os distúrbios fisiológicos, uma família desestruturada apresenta mais chances de constituir filhos com maiores sofrimentos. A agressividade pode se apresentar de várias formas, mas em seu íntimo encontra-se ligada ao sentimento de rejeição. Atitudes agressivas surgem diante da necessidade de ser visto e compreendido.

Todo ser humano tem pilares constitutivos e, de certa forma, idealizados para promover segurança. Nossos pilares são os pais ou as pessoas responsáveis para fornecer o sustento emocional e a formação adequada. Uma possível causa da agressividade na infância é a separação de um casal: um processo sempre doloroso, decorrente das alterações sofridas nos sentimentos e na rotina. Mesmo quando a mudança é para melhor, sobretudo haverá presença de filhos perdidos entre inseguranças, receios e falsas culpas. Os pais deveriam ser sábios e focar no bem- -estar das crianças. Mas nem sempre isso acontece. As crianças podem ficar deprimidas, melancólicas, desobedientes, com rompantes agressivos, alterações do sono, pesadelos, agitação psicomotora, inapetentes, ter tiques diversos, gagueira, concentração reduzida, queda no rendimento escolar e perda do interesse pela vida social. 

As crianças com idade entre 2 e 3 anos podem desenvolver atitudes mais medrosas e regressões comportamentais. As de 4 e 5 anos podem fantasiar a separação como passageira, assim como brigam com seus amigos e depois fazem as pazes. As crianças de 5 e 6 anos se sentem culpadas, como se tivessem feito ou pensado algo muito errado. Como consequência disso, elas deduzem que os pais brigaram e vão se separar. O medo e a culpa são os inimigos que podem levar ao adoecimento mental das crianças. Não podemos apontar que todos os filhos de pais separados serão "filhos-problema", mas, em geral, apresentam sintomas emocionais pela má condução do processo, muitas vezes pela negligência ou insensibilidade dos pais. É essencial que a criança entenda que o amor que o pai e a mãe lhe dedicam não vai sofrer alterações. 

E o que acontece quando um pai é imaturo e se torna totalmente ausente, após o rompimento? Ou aquele pai que não se importa com o(a) filho(a)? Com certeza, danos emocionais muitas vezes irreversíveis farão parte da vida da pessoa. Sabemos que o sofrimento de um rompimento é grande até mesmo em adultos. Imagine no caso de uma criança em plena formação de personalidade. O filho pode vir a desenvolver uma construção psíquica com forte retraimento, depressão grave, egocentrismo exacerbado, mau humor constante, sentimentos de inveja, hostilidade social, relacionamentos ruins e muitos outros comprometimentos severos.

Portanto, é necessário que os pais, mesmo tendo histórias parecidas, compreendam que repetir é algo que gera uma destruição emocional. O AMOR e a presença real precisam prevalecer para ajudar na superação. A responsabilidade de colocar uma pessoa no mundo vai além de si mesmo. É um ato de doação.

Revista Mais Noivas - Agosto de 2012
Uma Só Carne


Pensar que iremos encontrar uma pessoa e dedicar toda nossa vida a esta pessoa é algo que poderá deixar alguns confusos e amedrontados. Mas, para alguém entrar verdadeiramente no casamento é necessário ter valores bem estabelecidos, caso contrário, poderá desenvolver uma união individualizada.
Em Gn 2: 23-24 lemos: “Então disse o homem: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; ela será chamada varoa, porquanto do varão foi tomada. Portanto, deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e unir-se-á à sua mulher, e serão uma só carne”.
A melhor interpretação para a construção de uma nova família é mergulhar de coração aberto nesta nova construção, não deixar interferências externas abalarem a relação. Mas algumas pessoas entendem que seria um abandono completo da família nuclear primária, mas não é, trata-se de uma determinação de postos e funções, limitando o que é nocivo e determinando o que é importante para consolidarem juntos uma verdadeira família, posteriormente com a vinda do(s) filho(s).
Entendo que se pensarmos no foco da natureza humana, muitas pessoas se perguntam: como conseguiríamos vencer os desejos e atrações e dedicar somente a uma pessoa e nos tornarmos uma só carne? Sabemos que esta questão é permeada pelos valores elencados e construídos dentro de si mesmo. O conhecimento do temperamento pessoal e do outro é também um ponto muito importante nesta aliança e o desejo de manter e edificar uma família valorosa.
Que a reflexão seja de construírem um verdadeiro casamento, com entendimento de uma profunda união interna, de aliança sem mancha e valores que conduzam a uma real paz interior e prazer no convívio com o outro. Casamento é a união de princípios, junção de ideais e a busca de um vínculo que traga benefícios emocionais para ambos.
“Uma só carne: Um sonho em conjunto, Uma Vida bem Vivida...”




Edição 38


Por que foges de mim?

É importante entendermos a diferença entre ter ciúmes e ser possessivo. O ciúme é um sentimento muito singular na natureza humana. É uma tentativa de reter tudo aquilo que nos traz prazer e de ‘proteger' o objeto amado. A atitude protetiva pode ocorrer em todas as esferas da vida. É natural uma mãe querer proteger seu filho de tudo aquilo que imagina fazer mal a ele; sentir ciúmes pontuais. Mas uma mãe que mantém seu filho numa criação "redoma", com forte possessividade, fatalmente o conduzirá ao desenvolvimento do transtorno de dependência.Essa condição vai dificultar o trânsito do filho em todas as áreas da vida, pois geralmente o torna imaturo e com intensa dependência do outro. 
Sucessivamente percebemos atitudes de ciúme "protetivo" ao nosso redor. O ciúme é considerado entre muitos casais como um tempero da relação. Há quem considere o sentimento uma expressão do gostar. Mas é evidente que todo tempero exagerado estraga o alimento. Assim também acontece nos relacionamentos. 

Quando um ciúme pontual cede espaço para um controle absoluto; quando uma pessoa passa a agir com o domínio constante da relação e coloca a outra parte numa submissão esmagadora, surgem diversos sintomas físicos e emocionais para ambos. Em resumo, os possessivos são pessoas que passam a ter fantasias constantes de traição, mesmo sem a outra parte dar razão para tal. Nutrem pensamentos ruminantes, persecutórios e fazem perguntas invasivas o tempo todo. Na tentativa de proteger a relação, acabam dando um tiro no próprio pé e ainda perguntam: "por que foges de mim?". Pessoas assim sentem que o outro pertence integralmente a elas e passam a ter uma confusão patológica no discernimento de espaço e da individualidade das pessoas.

O ser humano está sempre em busca de satisfazer seu vazio, sua carência. Isso é a nossa existência, mas não podemos perder o discernimento de que o outro existe e de que seus desejos e as ambições próprias são fundamentais para a construção da autoestima. 

Pessoas que se anulam nos relacionamentos vivem fragmentadas em suas emoções e nos desejos, sofrem a angústia existencial e vivem num universo fantasioso de que um dia o outro vai mudar e preencher seu vazio. Mas se em algum dia acordar dessa passividade e romper a relação, o dominador dificilmente vai aceitar as mudanças. E infelizmente em muitos casos ocorrem atos extremos e de atrocidade desumana.

O amor deve ser natural. Não força, não proíbe, não chantageia, não machuca, nem invade. A cumplicidade vem pela relação de confiança mútua. Muitos casais dão um show à parte e são exemplos para serem observados. Seja qual for a relação que expresse a possessividade, é importante que você reflita no íntimo: saiba que para haver real desenvolvimento é preciso ceder mediante as possibilidades, ter maturidade, trabalhar a insegurança e confiar em seus princípios. Reflita sobre suas atitudes e saiba que o AMOR vem sempre com a medida certa, sem exageros, possessões nem distorções.


Edição 37


Tempo meu

Tempo que tanto prezo, desejo e não consigo organizar... Hoje é comum ver pessoas relatar dificuldades em lidar com o tempo. Falam das muitas tarefas cotidianas, queixam-se que gostariam de ter tempo para fazer outras coisas, que não sentem o tempo passar e por aí vai uma infinidade de relatos.
Penso muito a respeito do assunto e compartilho algumas considerações. A maioria vai concordar com a aceleração econômica e social da atualidade, com o alto nível de exigência que faz com que crianças e adultos sejam inundados de atividades para preencher o tempo e seguir numa busca incessante de conhecimentos e aprimoramento de possíveis dons. Tempo ocioso é malvisto nos tempos "modernos". Tornou-se "importante" falar sobre o tanto de atividades que se executa por dia, que o filho não tem nenhum horário livre, e vai por aí afora...
Na verdade, isso que presenciamos reflete inúmeras consequências. Percebem-se uma intensa fadiga e oscilações comportamentais em grande parte das pessoas. Elas trabalham, cuidam dos filhos, preocupam-se em aprender vários idiomas, têm a necessidade de praticar exercícios físicos, fazer novos cursos nos finais de semana, etc. Em resumo, o estresse acumulado fica visível. Assim as pessoas não conseguem refletir, aprofundar as boas conversas, falar de suas percepções ou sobre as coisas boas e valorosas da vida. Estão cansadas demais e, de certa forma, afastadas delas mesmas. Passam a agir de forma mecânica", e o prazer fica em segundo plano.
Com certeza é necessário desenvolvermos atividades profissionais, sociais, familiares, físicas e espirituais. É vital que possamos ativar todas as áreas de nossas vidas, mas com o devido equilíbrio e foco nas prioridades.
Observe-se para não cair na "rede" do "Se tá na moda, vou fazer também". O modismo engole grande parte das pessoas que vivem em ritmo acelerado, sem nenhuma qualidade de vida. Muitas investem tempo em atividades que não têm nada a ver com elas nem dão prazer. Essas pessoas seguem exercendo essas atividades somente para impressionar, como se isso fosse sinônimo de status. Cuidado!
Lembre que o tempo é precioso. É preciso dimensioná-lo com obrigações e prazeres para que o melhor da vida seja vivenciado com intensidade. As crianças que aprendem essa lição levam a vida sendo agraciadas pela segurança emocional, com tendência de buscar atividades que verdadeiramente vão trazer resultado, prazer e alegria. Descobrem desde cedo que não precisam ser o "Sr. Sabe-Tudo" e que a perfeição compete ao íntimo de fazer bem aquilo que se ama. Para elas, o tempo pode ser um grande aliado,caso seja ajustado às reais prioridades.
Nada melhor do que ter "tempo meu"; do parar e cuidar de si. Isso pode significar não fazer nada ou estar no salão, na academia, na terapia ou debaixo de uma árvore conversando com seus "botões" ou com uma pessoa especial. Ficar assim é tudo de bom, quando temos tempo para sentir a VIDA e não sermos devorados pela enfadonha falta de tempo.


Edição 36

A Sustentável Leveza

por Maria Angélica Falci
Imagine você subindo uma montanha íngreme com uma mochila cheia de pedras nas costas. Imaginou? Pois é justamente essa a sensação que incomoda muitas pessoas ao longo da vida. Elas carregam fardos e fardos de amargura, dor, tristezas e não lutam para mudarem de lugar. O subir a montanha fica muito complicado, pois exige um esforço inacreditável. Aí elas são tomadas por uma fadiga inexplicável e, por isso, permanecem como estão.
Comece a pensar em mudar de lugar, de ir retirando as pedras aos poucos, de aliviar o estresse e a fadiga. Você vai vivenciar um respirar diferente, uma paz inconfundível, uma sustentável leveza de SER. Experimente colocar no lugar das pedras, sensibilidade para perceber, amadurecimento para vivenciar e tolerância consigo. Assim você poderá desconstruir um caminho de dor e trocá-lo por um de estabilidade emocional.
Ainda que sua vida tenha uma história de muitas ruínas e pesos astronômicos, você poderá mudar de lugar e se permitir mudar internamente, abandonando sentimentos autodestrutivos.
Torne-se por inteiro e evite fragmentos de si mesmo. Dissipe os fantasmas do passado, volte-se para a cura de feridas e mágoas do passado. Esses sentimentos só conduzem aos processos depressivos. Planeje, sonhe e adote ideais realistas. Em resumo: volte a funcionar, de certa maneira, como uma criança que é ‘leve' por natureza. Por meio do ato de brincar, elas dissipam suas dores e tristezas. Reconstrua sua autoimagem, pois a construção do corpo emocional é, sem dúvida e em longo prazo, a melhor estratégia para encontrar uma vida leve.
Promova uma mudança com profundidade, que englobe pensamentos e atitudes e que, quando aplicados à vida, refletem um brilho capaz de deixar o olhar do outro espantado. A leveza do ser pode ser alcançada com foco, com real desejo de modificar os polos negativos e filtrar para si o que remete ao prazer, a ter uma vida sem desconforto emocional e a sair da cristalização de uma vida nociva. Isso significa abrir novas e reais possibilidades.
Muitas pessoas perguntam: como vou conseguir? Realmente são passos realizados com o que cada um possui internamente e se chama pulsão de vida: aquilo que motiva as pessoas a desejarem mais a plenitude da vida. A morte pode ser lenta, e sabemos que o estresse constante é um veneno diário. Portanto, é aconselhável fazer uma leitura interna e iniciar os passos para alcançar a leveza. A partir daí, é preciso fazer esforços para alcançar uma vida saudável, de preferência até a idade mais avançada. Não existe uma receita pronta, mas, com certeza, a fórmula está à disposição de todos.
Qual passo você gostaria de dar para começar?

Edição 34


Qual o seu tempero?

por Maria Angélica Falci
Desde a infância, ouvimos falar sobre o temperamento de “fulano”, que “ciclano” é assim mesmo, tem “gênio” difícil, e crescemos ouvindo sobre o tal temperamento. 

Mudanças significativas acontecem quando descobrimos que isso existe mesmo. Ter essa consciência faz toda a diferença nas relações. O termo “temperamento” deriva do latim e significa ‘mistura em proporções’, como tempero mesmo. Sua raiz instintivo-biológica está na personalidade, e a melhor notícia é que podemos trabalhar para amenizá-la, transformá-la, suavizá-la e amplificála. O temperamento define as reações básicas das pessoas mediante os obstáculos e desafios da vida.  

Existem quatro tipos considerados temperamentos raiz. Isso significa que você apresenta um temperamento muito forte, mas pode ter traços oscilantes de outros. Os temperamentos apresentam pontos fortes e de melhoria. Não existe um que seja melhor. Existe, sim, a necessidade de que eles interajam de forma harmoniosa.

O temperamento sanguíneo é o mais receptivo. É aberto, comunicativo, extremamente sociável e preza pelas boas relações, mas fica machucado, quando se sente excluído. São pessoas destacadas em seu meio, com ótimo nível intelectual, curiosas e criativas. Geralmente tomam decisões pela emoção e por impulsos. Tendem a abraçar muitas coisas ao mesmo tempo e correm o risco de cair na dispersão e superficialidade.

O temperamento colérico é ardente, dinâmico e desbravador. Quando as pessoas com esse perfil decidem fazer algo, dificilmente alguém as impedirá. Não se deixam levar por influências nem por pressões e não analisam muito suas decisões. Pegam o que precisam à sua frente e doam suor e sangue para alcançar objetivos. Geralmente alcançam grande sucesso. São como aqueles ‘diretores de cinema’ ou até mesmo os ditadores. Às vezes passam um ar de serem impetuosos e impiedosos, por serem mais frios, além de incontroláveis e inatingíveis.

Pessoas com temperamento melancólico pensam muito para tomar decisões. Tendem a ser detalhistas, muito organizadas e precisam se sentir muito bem ambientadas para ficar à vontade. Fazem amigos, mas não com facilidade. Tendem a valorizar as belas artes e a ficar fechadas em si mesmas. São donas de um intelecto em potencial. Toleram mal as falhas, os erros e não apreciam muito as posições de liderança e evidência. Precisam se sentir constantemente valorizadas pelo que executam. Caso contrário, ficam estressadas e feridas. Algumas prezam o sofrimento como parte criativa, como os poetas e músicos.

O temperamento fleumático é considerado coerente, porque as pessoas com essa natureza conseguem controlar melhor as emoções. Dificilmente têm explosões de raiva ou de risos. São calmas, serenas e apreciam fazer amigos, mas não se envolvem nem passam muita afetividade. Os fleumáticos não invadem as pessoas e passam um ar de indolentes, indiferentes, distantes, frios, calculistas e pretensiosos.  Muitas vezes, guardam tanto suas emoções que podem ficar sufocados.

Essa breve descrição foi feita para explicar que a existência das relações saudáveis depende da interação desses quatro temperamentos. Quando conhecemos o nosso temperamento, podemos otimizar forças e superar dificuldades com maestria. Quando conhecemos o temperamento dos outros, somamos habilidades para lidar com as diferenças e, consequentemente, vamos somar relações sem sofrimento.



Edição 33


Tem alguém aí?

por Maria Angélica Falci
A nossa comunicação necessita ser clara e transparente para prevenir conflitos no entendimento das pessoas. Essa é uma situação que acontece e muito. Assim como a fala, saber ouvir é de extrema importância. Sabemos que a raiz de excelência na audição está no âmbito familiar. Quando os filhos têm uma escuta familiar adequada, eles recebem atenção concentrada, com aproximação e entendimento. E com certeza essa pessoa leva esse reflexo para sua vida adulta e age naturalmente com interesse e a devida atenção. 

Ouvir se relaciona com estar profundamente "com o outro", centrado em sua fala, em sua necessidade de expressar, naquilo que está vivenciando e sentindo em determinada situação. Podemos dizer que o ouvir difere em qualidade do escutar. Vivemos num tempo muito corrido, acelerado, ansioso, no qual pessoas estão escutando muitas coisas ao mesmo tempo, mas não dão a devida atenção ao outro.

Muitas vezes, podemos ver que essas pessoas conversam com alguém, mas não estão realmente ali. Sempre me passa à mente perguntar: tem alguém aí? É muito complicado, quando as pessoas ficam ansiosas, agitadas para que a outra termine logo e elas possam falar de si. Muitas pessoas ignoram totalmente o ouvir e ficam apenas na expectativa de falar dos próprios problemas, etc. Quando ouvem, essas pessoas tratam o assunto alheio de forma superficial, flutuante, diferente de quando as estamos ouvindo com profundidade e realmente em apoio à situação expressa. 

Acredito que um dos maiores patrimônios pessoais e fruto da maturidade seja o saber ouvir. Como significativa consequência, aprender a ouvir a si é um treinamento que exige várias qualificações. É uma situação que às vezes incomoda. Muitas pessoas preferem não entrar nessa área. Elas ignoram e levam a vida sem ter tempo para bater um papo e ouvir a si.

Não estou falando sobre algo patológico não. Mas é muito importante ter esse relacionamento consigo. Essa é a fonte de um profundo autodesenvolvimento. A partir desse mergulhar no nosso interior, podemos definir melhor o foco, as prioridades, as possibilidades e saber discernir realidade de fantasia. Assim conseguimos viver com ótima qualidade de relacionamentos em todas as áreas. 

Saber falar e ouvir é sim algo em que devemos prestar atenção. Não se trata de uma questão tão singela e natural quanto parece. Portanto, esteja aberto para ouvir. É muito desconfortável, quando percebemos que estamos falando com a parede.

Edição 32


Bendita segunda-feira

O fim de semana retrata bem sentimentos de euforia e melancolia em curto período. As pessoas se sentem mais ambientadas a partir da quarta-feira. Em geral, na quinta e na sexta elas tendem a ficar mais eufóricas, com forte sensação de relaxamento e prazer. Nesses dias, o sistema neurológico libera uma grande dose de dopamina - substância precursora natural da adrenalina responsável por transmitir ao cérebro sensação de prazer e motivação. A sensação é mantida talvez em doses menores durante o sábado. Mas, no "domingão", eis que chega aquele momento de baixa emocional, principalmente se você executa atividades desprazerosas.
Sentimos satisfação, quando estamos próximos de uma finalização da semana. Mas por que sentimos desânimo, insegurança e até mesmo tristeza, quando estamos para começar uma semana? Estudiosos apontam que a sensação negativa tem relação com a questão existencial primitiva que existe em nosso inconsciente.
Trata-se de um sentimento aflorado pelas incertezas do porvir. Muitas vezes esse sentimento nos remete a uma angústia existencial ou a um forte medo sobre o que não temos controle. Abrir a porta de um lugar desconhecido é um exemplo. A ação nos remete ao medo e ao mistério do que pode ser encontrado no local. É uma sensação parecida com a de não sabermos como venceremos aquela semana.
São sentimentos irracionais, sem lógica, dos quais geralmente não temos consciência dos motivos. A maioria das pessoas relata sensações físicas desconfortáveis e, muitas vezes, com pânico. Os adolescentes são os que mais sofrem. Em processo de maturação emocional, os jovens vivem numa montanha russa, oscilando com esses sentimentos, sem entender por que ficam ora eufóricos, ora tristonhos. Nos adultos, os sintomas também se manifestam, mas, em virtude da vivência e da maturidade, eles aprendem a controlar melhor os sintomas.
Podemos ir mais longe. O problema não é só com relação aos domingos. Muitas pessoas ficam mais melancólicas e algumas até com pensamentos mais sombrios, quando estão em véspera de fechamento e de início do ano. Há quem apresente sintomas depressivos, negativos e desesperadores diante do que está por vir.
O importante é termos consciência da raiz desses sentimentos, aprender a controlar e encarar essas reações com naturalidade, sem muito pesar, e retirar das falas jargões do tipo "lá vem a maldita segunda-feira", porque isto só ajuda a potencializar na mente a sensação de desprazer, de inércia. Portanto, ter uma atitude mais positiva em seu âmbito mental é muito importante para vencer a angústia da segunda-feira.

QUESTÃO DE AUTOESTIMA

Autoestima. Hoje em dia escutamos muito essa palavra. Várias situações se associam a ter ou não autoestima adequada. O sucesso aos projetos pessoais é atribuído a ela. Realmente, ela é um fator muito importante, mas não é algo que compramos na esquina. A autoestima é uma construção que vem sendo feita desde a infância. Ela vai sendo moldada e transformada em combustível para que as pessoas acreditem mais em seu potencial e sintam-se seguras para investir em seus projetos.

Mesmo aquelas pessoas que não foram estimuladas à construção da autoestima em ambito familiar, podem mudar essa história e agir diferente. Podem lutar com mais força psíquica para adquirir uma nova construção de si mesmo.

F. Potreck-Rose e G. Jacob (2006) propõem uma abordagem psicoterapêutica para baixa autoestima baseada no que elas chamam de “os quatro pilares da autoestima”, os quais particularmente considero muito interessante: 

1. Autoaceitação: Uma postura positiva com relação a si mesmo como pessoa. Inclui elementos como estar satisfeito e de acordo consigo mesmo, respeito a si próprio, ser “um consigo mesmo” e se sentir em casa no próprio corpo.

2. Autoconfiança: Uma postura positiva com relação às próprias capacidades e desempenho. Ter real noção da suas potencialidades e ferramentas.

3. Competência social: É a experiência de ser capaz de fazer contatos. Inclui saber lidar com outras pessoas, sentir-se capaz de lidar com situações difíceis, ter reações 
flexíveis, conseguir sentir a ressonância social dos próprios atos, saber regular a distância-proximidade com outras pessoas.

4. Rede social: Estar ligado em uma rede de relacionamentos positivos. Inclui uma relação satisfatória com o parceiro e com a família, ter amigos, poder contar com eles e estar à disposição deles, ser importante para outras pessoas.

Vamos pensar na importância que devemos dar a nós mesmos, mas sem perder o sentimento altruísta. É essencial desenvolver passos e ficar mais atento e consciente das próprias emoções, sentimentos e sensações físicas e psíquicas. Ter um relacionamento respeitoso e amoroso consigo mesmo são pontos vitais para conseguirmos dar equilíbrio à vida e, assim, sentirmos felizes, saudáveis e dispostos. 
“Quase todos os nossos problemas emocionais - ansiedade, timidez, autodestrutividade nos negócios ou na vida amorosa, o caminho das drogas - têm sua origem na auto-estima insuficiente.
É esse afeto por nós mesmos que nos dá o sentido de valor, de merecer o sucesso seja em qual área for. É o que nos leva a enfrentar os desafios da vida. É na hora da 
queda, dos fracassos, das perdas inevitáveis, já que somos humanos, que a autoestima reflete sua face mais importante. Na mesma circunstância em que uns optam pelo renascimento, pela recuperação, outros optam pela depressão e acomodação no sofrimento”, afirma Múcio Morais. 
Acredito que a felicidade se resume a momentos mais constantes de estabilidade emocional, diferentemente daquela pessoa que vive mais tempo em altos e baixos e, com certeza, vive cercada de estresse e desânimo diante da vida e dos novos desafios. Faça a diferença em sua vida, dê mais credibilidade a você mesmo. Ame a si mesmo! Que o Novo ano comece com equilíbrio em suas emoções!  




SONHAR É PRECISO
Todo final de ano é sempre a mesma coisa. Nós desaceleramos um pouco e realizamos avaliações sobre o andamento da nossa vida. Um momento em que as pessoas definem o que querem fazer e o que querem deixar para trás. Muitos desejam um novo emprego, encontrar um verdadeiro amor, ter filhos, comprar a casa ou o carro dos sonhos, perder peso, parar de fumar, ser uma pessoa mais altruísta etc. Mas, infelizmente, a maioria dessas definições acabam desaparecendo nos primeiros meses do novo ano. Algumas se dissipam como a fumaça dos fogos de artifício ou como a espuma borbulhante dos champagnes. Sabe por que isto acontece? Porque muitas pessoas definem metas pautadas em fantasias e não em sonhos.

Para entender melhor o que escrevo, vou relatar a diferenciação entre sonhos e fantasias: os dois estão separados por uma preciosa e, muitas vezes, ignorada linha chamada realidade. Os sonhos nos movem pela vida a fora e são eles que nos impulsionam a atingir nossas valorosas metas, alimentam o espírito e nos dão estímulos para vivermos com mais positividade. Mas, quando estão alienados da realidade e do que concretamente podemos realizar, tornam-se fantasias e, como tais, minam nossos pensamentos e atitudes comportamentais, enfraquecem nossa visão da vida e se transformam em uma tortuosa e contínua fonte de sofrimento.

De acordo com o escritor George Santayana, “a vida desperta é como um sonho sob controle”. Crescer e amadurecer tem a ver com sonhos, não com fantasias. Se você ainda se encontra preso às metas ou aspirações infantis, ao poder ilimitável do basta querer, se ainda insiste em ter devaneios como um meio de fugir das frustrações, se não aceita que muitos desejos não se realizarão pelo menos do modo como imaginou, você vive mais tempo em um mundo de fantasias. Neste mundo posso ser e ter o que quiser, mas em algum momento preciso voltar à realidade e às responsabilidades. É justamente nesta linha tênue que se instalam os mais severos transtornos mentais, quando as pessoas rompem com a realidade e não conseguem mais retornar ao mundo real.

Mas, para a maioria de nós, sabe- se que é inevitável o contato com a realidade, a vida sempre nos colocará para realizar esse valioso teste, sendo o primeiro deles aprender a lidar com as frustrações, aceitar que só desejar não realiza o que se quer.

O passo essencial é aprender a construir objetivos possíveis, assumir compromissos mais concretos com suas habilidades e respeitar as próprias limitações. Depois, definir suas metas e começar a trabalhar em direção àquilo que você tanto sonha.

Estabeleça prazos, avalie sua atual situação e se faça várias perguntas do tipo: “Onde quero chegar?”, “O que eu quero da vida quando chegar na idade X?”, “Como me sentirei alcançando tal objetivo?”. É muito importante você saber onde está, onde quer chegar e, principalmente, avaliar quais ferramentas possui e quais serão aquelas a aprimorar. É necessário compreender se a sua meta está no tamanho proporcional à sua realidade, ou seja, melhor definir metas que sejam alcançáveis, que dependam do seu esforço.

Quem sonha tem esperança, não se torna um alienado. Quem sonha quer se desenvolver, aprender realmente a ser feliz, e sabe que isso inclui não ficar esperando recompensas por desapontamentos ou perdas do passado. Em resumo: quem sonha cresce a vida inteira, já quem fantasia vai morrendo a cada instante. 

Um novo ano com muitos sonhos concretizados! Até breve!



SUBINDO A MONTANHA... 
Artigo da Revista Mais Noivas: Dezembro de 2011
...Para começar este artigo, pensei em imaginarmos um alpinista subindo numa montanha gelada, muito íngrime, com muitos perigos e ciladas. Este alpinista necessita de todos os recursos adaptativos, psicológicos e materiais para atingir com sucesso seu objetivo, caso contrário ele está fadado ao risco da desistência ou até mesmo morrer no meio caminho.
Penso que da mesma maneira deste paralelo são os encontros conjugais, necessita-se para dar certo muitos recursos, principalmente os psicológicos / emocionais bem ajustados.

Em determinado momento da vida de uma pessoa ela esbarra em alguém e sente aquele “click”. Começam a namorar apaixonados, fazem vários planos, sonham com a perfeição. Mais amadurecidos ou não, resolvem subir mais alto na montanha, antes estavam na base da montanha, imaginando como seria chegar lá em cima, como seriam os desafios e o visual do ponto mais alto, dão ares à imaginação e partem a ação. Pensam com detalhamento em toda a parte material, recursos e suprimentos para viverem com qualidade uma vida a dois, mas muitas vezes entram para dentro de uma pseudo-realidade e eis que de repente entram rapidamente para o caos da convivência a dois. 

Com o tempo vão perceber as ciladas da montanha que neste caso seriam às diferenças da personalidade, da criação e costumes, pois somente vivendo juntos que muitas facetas mascaradas aparecerão. E é ai que chega a primeira tradicional pergunta: onde erramos? Pensaram nos convidados, na cerimônia, nas roupas, festas, decorações, presentes, casa física, móveis e etc. E se esqueceram do Principal. É comum considerarem que estes aparatos secundários seriam o principal para a realização do casamento. Mas enxergam que faltou algo quando surge a primeira crise, às vezes muito rápida e intensa, quando o castelo de aparências começa a cair nas areias da vida, quando a casa física foi edificada e não a casa emocional.

Naturalmente, somos diferentes, independente da criação, diferenças singulares nas ações e pensamentos existem, pois em grande maioria, os homens atuam de forma mais focada e a mulher com suas multifunções, os atritos começam a surgir daí; Quando a mulher exige do homem aquilo que ele não consegue perceber mediante sua natureza e o homem começa a se estressar com o tanto de movimentos feitos pela mulher, pois uma frase exemplifica bem a mulher: “tudo ao mesmo tempo agora”. As turbulências aparecem, período que costumo chamar de “ajustes das arestas”, e eis que surge a segunda tradicional pergunta: Como alguns casais ficam juntos tanto tempo e aquecem o AMOR?
Existem vários fatores que permeiam esta questão, considero que muitos casamentos dão certos porque se encontra no mesmo ajuste.

Não refiro que deva ser um ajuste 100%, isto é impossível, mas é importante aprender a conviver com as diferenças na construção da personalidade, que tem haver com a história de cada um, todos nós trazemos nossa “mochila” emocional e juntamos ao outro em algum momento da vida. Para darem este passo precisam desta consciência, aceitação e equilíbrio, pois caso contrário, a relação estará fadada ao risco da desistência ou até mesmo morrer no meio caminho (separações) pelo stress que adoece muitos relacionamentos.

Quando mais novos, idealizamos uma união perfeita, principalmente se temos bons exemplos dentro de casa. Mas precisamos sair da idealização e ir para a Vida Real. Os relacionamentos no meu ponto de entendimento e experiência dão certos sim, é possível e durável sim, mas quando existe uma afinação entre o casal desde antes do casamento, quando existe a entrega, renúncia de si mesmo, submissão, respeito, ajuda mútua e controle emocional. São todos estes os pilares para estabelecer uma união satisfatória e feliz. Faça uma reflexão profunda dos pontos Principais para se chegar ao objetivo, para alcançar o “topo da montanha” e regozijar. Vocês possuem todos estes pilares em sua relação?

Ressalto aos futuros casais que para conseguirem o topo da montanha juntos, precisam deixar do lado de fora a falta de comunicação, a Competição, o individualismo, o coração rancoroso, os julgamentos e preconceitos. A maior ferramenta é ser para o outro um trampolim e não uma âncora. É torcer por suas conquistas e vibrar com seus sonhos.

Infelizmente, assisto muito no consultório casamentos que começaram muito bem embasados, mas que com o tempo ruíram. O exemplo daquele e.mail do jogo de Tênis é fantástico: No tênis as pessoas tentam ganhar do outro, dificultar ao máximo as raquetadas na bola, uma verdadeira COMPETIÇÃO, diferente daquele jogo gostoso do frescobol que é parecido com tênis, jogam também com raquetes, mas o objetivo é muito diferente, é simplesmente não deixar a bola cair, facilitar para que o outro consiga continuar o jogo e quanto mais tempo não deixarem a bola cair melhor, algo que tem haver com COMPARTILHAMENTO, ou seja, deixe de fora a Competição, subam juntos a montanha, mantenham a bolinha no ar.

Para finalizarmos esta reflexão, eis que aparece a terceira tradicional pergunta: O Que é o Amor? São considerações que por mais que existam definições universais, tem haver com a sua linguagem estrutural, com aquilo que você considera mais significativo referente ao sentir-se amado e doar AMOR ao outro. A sua linguagem precisa ser colocada em prática para que ambos sejam preenchidos, para que vivam com conhecimento um do outro, com tranqüilidade e ausência de sentimentos nocivos para uma relação saudável. Pois a expressão máxima do AMOR só acontece nas relações onde um se entrega ao outro de forma natural e profunda. E Viva este sentimento universal e tão eloqüente que todos nós buscamos, ansiamos por sua existência, principalmente quando estamos prestes a mudar para outra etapa da Vida.



O NOSSO LUTO DE CADA DIA

Quem ainda não passou por perdas, passará. Esta é uma das grandes verdades da vida. Como algumas pessoas suportam tão bem com a ausência perpétua de um ente querido e outras não? Com base nesta pergunta tentarei orientar a quem apresenta muitas dificuldades para lidar com a morte. 
Podemos considerar a perda num contexto muito amplo. Há aquelas que são consideradas lutos por expressar uma dor emocional profunda. De forma geral, são as mais significativas na vida de uma pessoa. Entre elas está a morte de uma pessoa próxima e o luto da passagem do tempo, situação em que, por exemplo, pais sofrem quando seus filhos passam da infância para a adolescência e assim sucessivamente, quando formam, casam e se mudam. 
O luto se refere às mudanças que propiciam um corte brusco. Não diz respeito somente à dor pela morte física. Exemplificando: existem pessoas que também sofrem o luto pelas perdas materiais, por mudanças de status ou por problemas de saúde. 

Muitos não sabem conviver com a ausência devido à construção anterior, muitas vezes por perdas traumáticas em tenra idade, quando não apresentavam maturidade emocional e cognitiva e não tiveram apoio para ampliar o entendimento, ou seja, sentimentos que ficaram guardados, não sendo trabalhados de maneira adequada. 

É verdade que não temos que pensar o tempo todo que no futuro teremos de lidar com as perdas. As pessoas que se comportam dessa forma desenvolvem um humor melancólico e um discurso sombrio. Mas nem por isso podemos ignorar radicalmente e mergulhar num mundo de fantasia.

Pensar e conversar a respeito auxilia no processo de elaboração. Não podemos dizer que uma pessoa se prepara para estes momentos. Isto é algo muito raro e difícil de acontecer, mas devemos focar em nosso amadurecimento emocional e colocá-lo, aos poucos, no seu devido lugar, pois quando ocorrer será possível se manter intacto, íntegro, sem ativar um dispositivo que conduza a alguma patologia psíquica ou psicossomática. 

Posso até ser um pouco ousada e dizer que muitas vezes abrimos um leque nas desconstruções que passamos, sejam lutos ou perdas. Ainda consigo enxergar muitas possibilidades nestas situações onde muitos se fecham num universo depressivo e num profundo desespero. Mas é muito interessante pensarmos na questão da criação após o caos, pois é ali que as pessoas começam a descobrir potencialidades desconhecidas e novas janelas que podem ser abertas em suas vidas. É como uma casa que vai ao chão, como num terremoto, mas é reerguida ainda mais sólida. 

É verdade que muitas pessoas não conseguem enfrentar sozinhas, precisando do outro. Se você estiver passando por um momento difícil, vivencie o luto, coloque-o para fora, mas também pense nesta questão, que mesmo no caos você poderá, sim, desenvolver, criar e realizar. Não desista de si mesmo. Seja forte por si e pelo outro. É maravilhoso quando encontramos pessoas que abrem este leque e sorriem para a VIDA novamente. Reflita!





Um Olhar Sobre As Crianças

Escrevo este artigo como um grito, como um forte alerta aos Pais e/ou responsáveis pelas Pessoas em Grande Desenvolvimento Psíquico e Físico. São as nossas crianças e pré-adolescentes. Pode ser um “jargão popular”, mas elas são o futuro da sociedade, e o que temos visto....... Assusta muito.
Preciso dar este grito que sai da minha alma, pois tenho atendido em consultório crianças e pré-adolescentes sendo violentadas em suas próprias casas, sendo destruídas naquilo que temos de belo: nosso corpo, nosso templo, nossas emoções.
Trata-se de um assunto que muitas pessoas sabem que acontece, mas preferem ignorar e “tampar o sol com a peneira”. Alguns pensam assim: “é algo distante da minha realidade, é algo imundo e não devemos falar a respeito”. Não; Minha gente!! Vamos mudar o pensamento e olhar sobre as Crianças.
Segundo Piaget, as crianças passam por fases em seu desenvolvimento, são estes processos que permitem a construção da sua interação com o mundo. Portanto necessitam de respeito, amor e compreensão em cada fase, para não pedirem delas algo além ou aquém, mediante sua idade maturacional, ou seja, um adulto deve ter discernimento para não invadir e/ou destruir sua construção natural.
Sabemos que os “criadores” possuem o poder tanto para salvar uma vida como também para adoecer esta vida.
Devido ao fato da criança ser uma pessoa em desenvolvimento, ela não se encontra preparada no psicológico e físico para receber qualquer estímulo sexual, esta violência perversa causa um profundo dano emocional, geradora até mesmo de doenças mentais crônicas e devastadoras, entre outras.
Infelizmente, temos visto crescer algo que muito se fala, mas pouco se faz no Brasil. Crianças e pré-adolescentes sendo abusados por pais, padrastos, vizinhos, professores, pessoas próximas e outros. Não importa a classe social, isto acontece em todas e tem repercutido nos consultórios como uma avalanche de sintomas em crianças e também em adultos que resolveram tratar este foco de angústia guardado muitas vezes como um tabu por muitos anos.
Numa Linha geral, uma criança pequena, de cinco anos ou pouco mais, mesmo quando conhece e gosta da pessoa que o abusa se sente em profundo conflito entre a lealdade para com essa pessoa e a percepção de que essas atividades sexuais estão sendo terrivelmente más e desconfortáveis a ela.
É comum elas intensificarem os conflitos internos e experimentarem sensações que não seriam para elas, são sentimentos ruins, provenientes do mundo adulto, os quais elas não dão conta de lidar tão bem, como por exemplo, a solidão, melancolia constante e o abandono.
Quando os abusos sexuais ocorrem na família, a criança pode ter muito medo da cólera do parente abusador; Medos intensos, tais como: da vingança, retaliação ou da vergonha dos outros membros da família, ou o que é pior, teme em seu imaginário que a família se desintegre ao descobrir “aquilo que ninguém pode saber”.
A criança que é vítima de abuso prolongado, usualmente desenvolve uma perda violenta do amor próprio, tem a sensação de ser uma pessoa inadequada, usada e adquire uma representação anormal da sexualidade. Podem se transformar em adultos abusadores de outras crianças e também se inclinarem para a prostituição ou desenvolverem outros sérios problemas emocionais quando adultos.
Comumente as crianças abusadas ficam aterrorizadas, confusas e muito temerosas de contar sobre o que ocorre e para piorar este quadro de horror, infelizmente, algumas mães fazem “vista grossa” para não perderem a companhia dos abusadores, preferem negar aquilo que acontece “debaixo do seu nariz”, ou seja, perder a qualidade de vida emocional do seu filho do que perder o companheiro, uma realidade cruel e absurda aos nossos olhos.
Como grave conseqüência, a criança pode tornar-se muito introvertida, desenssiblizada, com forte tendência de perder a confiança em todos os adultos e de se sentir tão mal nesta situação que passa a considerar o auto-extermínio como o alvo da solução deste desconforto, principalmente quando existe a possibilidade da pessoa que abusa ameaçar de violência se a criança denunciar ou negar-se aos seus desejos.
Como alerta, podem ser percebidas mudanças bruscas no comportamento, alterações no apetite, no sono, no humor, no rendimento escolar, podendo ser um indício de que alguma coisa esteja acontecendo, principalmente se a criança se mostrar abatida, isolada e perturbada em sua exposição social ou perto de uma pessoa específica.
Temos feito atendimentos, relatórios, reuniões, confirmações de casos aos Conselhos e muitas vezes poucas resoluções são tomadas na parte jurídica, muitas vezes trata-se de um caso conhecido de várias instâncias, de que a criança encontra-se em risco, mas nada acontece e ela fica ali naquele ambiente cruel, sendo devastada em seu íntimo, se sentindo um Ser Humano sem possibilidades.

Sociedade vamos dar um Grito juntos!! Vamos lutar por nossas Crianças. Fiquem em ALERTA. Ajudar uma criança é fazer muito!





Para Qual Time Você Torce?
O jogo de futebol foi criado para ser algo lúdico, prazeroso, como fonte de prazer coletivo. Antigamente as pessoas iam ver os gladiadores em Roma, uma diversão mórbida, é verdade, mas também no intuito de retirarem um tempo de todas as preocupações pessoais e sociais, ressalta-se também o interesse político no desvio da atenção das pessoas. O funcionamento do futebol é o mesmo, esporte coletivo que atrai grandes massas, mas em uma evolução nociva, uma história desviada, pois deveria ser um lugar de trocas, alegria e prazer, mas temos visto um lugar de uma forte intensidade de conflitos, competições destrutivas e adoecimento generalizado, tanto físico como emocional.
É natural que o pai que goste muito deste esporte queira que seu filho siga o seu time eleito. Quem nunca acompanhou um pai com seu bebê num uniforme do seu time e exibindo-o como um troféu. Mas... E quando isto não acontece na infância ou adolescência? Eis que chega a frustração. É significativo, de muita relevância o que vemos em algumas famílias, quando crianças pequenas por volta de 5 / 6 e 7 anos querem escolher o seu time por alguma identificação inconsciente, por causa de alguma influência e até mesmo nos mais competitivos escolher aquele time que apresente mais vitórias e não conseguirem pontuar este desejo. Como conseqüência, sente-se acuado, pressionado ao extremo.
Família: não podemos esquecer que são crianças em profundo desenvolvimento da personalidade e em geral, não conseguem expressar-se com tanta espontaneidade, não querem magoar principalmente seus progenitores. São imaturos, influenciáveis, ainda não dominam seus sentimentos, mas eles existem, e isto é terrível para a formação de uma criança, pois não são robôs, nem bonecos, precisam sim de Limites e bons exemplos, mas também precisam expressar seus sentimentos, seus desejos e idealizações.
...Tenho visto em alguns casos, uma evolução para sintomas freqüentes nas crianças. Exemplifico com o seguinte discurso: “não quero este time, mas meu Pai não vai entender, ele vai ficar muito bravo comigo”. O que na verdade esta criança externa é: “não posso escolher, senão, não vou ser amado, não serei aceito”, se este tipo de sentimento perpetuar como conseqüência poderá se tornar um adulto com uma profunda dificuldade na auto-realização / autoconfiança e auto-estima, pois incutirá na sua mente que o que escolhe não é correto, não é bom.
São pessoas que ficam dependentes demais da aprovação do outro, o que iniciam não conseguem terminar e o que é pior, a criança aprenderá a reprimir e esconder suas emoções e especializará na arte da simulação.
Fortalecer a idéia de que não podemos expressar nossos sentimentos, que é mais apropriado demonstrar o inverso de nossas emoções, na realidade é aprender a ter uma vida dupla, o que não é nada saudável. Exemplifico, com o que escutei há pouco tempo de uma criança de seis anos: “Quando estou na família do meu Pai e estamos vendo o jogo, finjo que torço pelo time deles e tenho que me controlar para não ficar alegre quando o meu time faz um gol”. “Considero até mesmo uma crueldade”. Quanto tempo esta criança agüentará ficar sob esta pressão para satisfazer o desejo do outro? Como poderá um indivíduo ficar tanto tempo dividido? Como resultado, podemos visualizar: tiques nervosos, gagueira, humor melancólico, dificuldades na aprendizagem cognitiva, ansiedade exacerbada e até mesmo uma depressão mais acentuada e na adolescência, quando mais amadurecidos, possivelmente poderão assistir cenas com rompantes emocionais, fúria desenfreada, desvios de toda natureza e até mesmo as temíveis doenças mentais mais severas, pois ficará muito forte a Repressão no lugar do Prazer.
Deveria ser apenas uma Escolha Natural, mas muitos pais levam ao radicalismo, consideram até mesmo que se o filho não tiver à mesma escolha do time é o mesmo parâmetro dele ter uma doença neurológica grave ou algum desvio sexual, por exemplo.
Pais: Atenção!! Procurem sondar o que está no seu emocional e como você transfere aos seus filhos. A forma como certas palavras saem da boca é algo muito sério, não banalize o que as crianças expressam, lembrem-se sempre que atos de intimidação e chantagem extrema levam ao adoecimento emocional.
Indico aos Pais o livro do Psicólogo Clínico Dr. Antonio Siqueira, excelente manual de orientações: “50 Coisas que os pais nunca devem dizer aos filhos”, lógico, que não seremos 100% assertivos como direciona o livro, mas já é uma ótima reflexão a todos que são Pais ou que pretendem ser. Até Breve!!





HERÓI X VILÃO -  
A PRESENÇA PATERNA E SUA REAL IMPORTÂNCIA

Pai vamos brincar? Pai me ajuda com o dever de casa, Pai me leva ao inglês...Pai me dá banho...Pai tô com fome!!!
Todas estas expressões refletem as mudanças que estamos vivendo em nossa sociedade contemporânea, pois os pais estão mais presentes, deixaram de ser apenas o provedor ou aquele que aparece somente para apagar incêndio ou para a diversão.
No modelo passado o pai foi muito ausente e as crianças precisavam de muito mais recursos fantasiosos para lidar com suas angústias, pois é algo nato da criança criar o pai na fantasia, sendo este Pai um Herói, mesmo distante ou um Vilão, quando maltrata ou abandona sua família.
Observamos significativas transformações no universo familiar. Mudanças que estão sendo bem vindas e necessárias.
 Hoje em dia os Homens estão mais próximos dos seus filhos nesta tarefa da criação, reflexo da saída da mulher para o mercado de trabalho, movimento iniciado após 1950 e atualmente colhendo a real mudança cultural, mas é um ótimo processo, pois observo que quanto mais o pai participar de atividades rotineiras da criança junto com a mãe, melhor será a construção de valores como honestidade, bom senso e equilíbrio emocional por parte do filho, lógico, se tratando de uma família que apresente os bons exemplos a serem transmitidos.
A presença paterna favorece seu pleno desenvolvimento psicossocial, pois existe o que chamamos de “Lei do Pai”, um processo inconsciente que o indivíduo introjeta desde cedo, sendo este muito importante na formação de uma criança, pois se trata de um processo que vem respaldar as ações e limites. Para exemplificar, basta olhar dentro de sua casa, em geral, o pai consegue estabelecer regras e horários com tranqüilidade, enquanto muitas vezes a mãe precisa se esforçar e até se “descabelar” para ser atendida, as mulheres são naturalmente mais flexíveis.
 Quando uma pessoa cresce sem esse processo de identificação, pode refletir diversos sintomas, como dificuldades escolares, oscilações freqüentes de humor, agressividade exacerbada e até mesmo evoluções para distúrbios alimentares, sexuais e os conhecidos Transtornos de Conduta que estamos assistindo na nossa rotina e na mídia. Esses transtornos de conduta estão ligados à falta de limites, que faz com que a pessoa aja como se tudo fosse permitido e tenha de ser experimentado, falta nesta situação à barra inconsciente da “Lei do Pai.” Geralmente quando uma criança não tem o pai presente, seja por alguma fatalidade ou intercorrência da vida, na maioria das vezes e de forma inconsciente a criança adota alguém mais próximo como modelo, mesmo não sendo o ideal, ajuda a criança ter uma boa formação de valores e caráter.
As mudanças culturais em andamento são favoráveis por fazerem com que os pais fiquem mais “antenados” ao desenvolvimento geral dos seus filhos - função muito atribuída somente à mãe, pois além de ter esta função de forma isolada, jogava-se sobre suas costas toda culpa e possíveis erros, caso o filho cometesse, quem nunca escutou por parte do pai: Veja o que o “seu filho” fez? As mulheres abraçavam este lugar e adoeciam muito mais em conseqüência da culpa gerada e do constante estresse, pois todo sucesso ou fracasso do filho recaía diretamente sobre sua criação “solitária”. Hoje menos, pois há um maior compartilhamento entre os pais, embora muitas famílias ainda sigam o modelo da responsabilidade materna, infelizmente.
Observo este momento até mesmo num universo pequeno que é o consultório, antes, por exemplo, somente as mães traziam seus filhos para o acompanhamento, agora tenho visto crescer a cada ano a participação do Pai que busca conversar, ser orientado e compreender o que ocorre, e o melhor, expressa um grande prazer em acompanhar o filho.

Família unida, que compartilha os bons e difíceis momentos, que solidifica os mais importantes valores, isto sim, tem um grande Poder.
                                                                                                                                         
 ...Você já pensou o quanto é importante e profundo Ser PAI?





VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ?

Estava conversando com uma amiga e ela me disse que possui um medo muito forte de “lagartixa”, daí eu pensei em aprofundar melhor este tema, pois quando falamos MEDO, entendemos como algo que traumatizou a pessoa pelo fato dela ter vivenciado algo ruim com o objeto do medo. Venho através deste, salientar que o processo que faz com que o medo invada nosso íntimo vai além do registro de um simples trauma ou vivência direta com este objeto.
Possuímos em nossa memória primitiva os registros do medo que nos faz lutar e agir em prol da nossa existência, são reflexos neurológicos importantes para nossas ações, o medo é algo natural e pertinente a todos nós.
Podemos pensar em Medo e em suas extensões, tais como Fobia, considerado o Medo patológico e ataques de Pânico. Tentarei externar cada um destes pólos de forma distinta
O distúrbio do medo patológico pode se apresentar como Fobia Específica, quando o pavor tem um alvo direcionado como, por exemplo, o que assistimos de forma intensificada na clínica: medo de animais, de escuridão, de água, altura, de ficar sozinho, etc. Pode ainda se apresentar como Fobia Social, alvo muito evidenciado nos dias de hoje, na qual o pavor é de sentir-se objeto de observação e avaliação negativa pelo outros, como falar em público, escrever diante da observação dos outros, comer em público, expor idéias numa reunião de trabalho e etc.
O Medo patológico poderá vir também sob a forma de Ataques de Pânico, onde a pessoa passa a ser acometido, de uma hora para outra de sintomas físicos exagerados e terríveis, sem que saiba identificar o que o ameaça. Estes sintomas vão desde as sensações de desfalecimento, taquicardia, sudorese, esfriamento do corpo, sensação de que está sendo observado por todos os olhares, nó na garganta, forte vontade de urinar e outros, são sensações de uma profunda desorganização fisiológica e emocional.
Hoje em dia aceita-se, com um pouco de incerteza, que esse distúrbio atinge duas vezes mais mulheres do que homens. Considera-se que o medo, mais precisamente, o medo patológico sendo algo limitador da vida das pessoas, vem aparecendo com freqüência cada vez maior em consultórios psiquiátricos e psicológicos.
Ao contrário, do que se pensa, o MEDO tal como falei no início não quer dizer que tem causa direta com o alvo provocador, não precisamente ele tem uma razão objetiva, por exemplo: tenho medo de aranha porque fui picado por aranha, nem sempre existe uma base na realidade concreta, o que faz com o que as pessoas se sintam ainda mais constrangidas por saberem que é algo absurdo e imaturo o que sentem, mas é algo muitas vezes incontrolável, provoca uma ansiedade generalizada e os sintomas físicos fecham este quadro de Pavor.
Assisto na minha experiência uma vitória muito grande, pois as pessoas que antes se isolavam por “medo” de apresentarem estes sintomas, hoje em dia, em grande maioria, lutam contra estes, que na realidade relaciona-se com a sua história de vida, com os registros em sua formação e quando desvendam este véu, conseguem transitar na sociedade com mais confiança e serenidade. É verdade que estamos vivendo com muito estresse nos dias de hoje, muita pressão e cobranças sociais e em alguns casos o “medo” tem sido uma válvula de escape, ou melhor, uma despressurização.
 Quando perceber que o medo limita sua Vida, que traz um forte incômodo, reduz ou retira seu lazer, prazer e alegria, considera-se o momento de desconstruir estas vivências para se encher novamente daquilo que mais necessitamos diante da VIDA que é a Coragem, Ousadia e à Autonomia das boas escolhas.
Existe na internet um dicionário que especifica todas as fobias, é algo interessante visualizarmos a existência de tantas fobias: eis algumas delas, o que mais assistimos em atendimento:





CONSUMO OU CONSUMISMO- O LIMIAR ENTRE A NORMALIDADE E O ADOECIMENTO

Quando pensamos em consumir, geralmente sentimos um prazer, algo que vem encher nosso momento de alegria e satisfação. O consumo é algo que faz parte da natureza humana, implica na aquisição de bens e serviços.
Não vejo nenhum problema em consumir, adquirir e aproveitar bens e produtos para satisfazer as reais necessidades, é algo que mexe com nossa motivação, fonte geradora do prazer, ou seja, o consumo se baseia em necessidades primárias para o homem e para a sociedade na qual se encontra. É importante buscar o crescimento pessoal e profissional, a ambição num nível satisfatório é algo que funciona como um combustível para o crescimento em diversas áreas, o problema inicia quando a pessoa passa do limiar do Consumo para o Consumismo exagerado.
Consumismo uma palavra que faz parte da rotina atual, palavra utilizada em grande escala, motivo de zombaria entre amigos e chavões que incomodam muitas pessoas. Em geral as mulheres tendem mais fortemente ao impulso da aquisição, homens também não ficam muito atrás, mas apresentam mais controle por um senso maior de responsabilidade com a provisão familiar.
O consumismo é o ato ou hábito, de adquirir produtos e na maioria das vezes supérfluos, sem que haja uma real necessidade. Quando ocorre a ação de maneira compulsiva passa a se tornar uma doença geradora de muitos transtornos para a pessoa e seus relacionamentos, inicia-se em geral um comprometimento muito grave, pois a pessoa começa a dissimular, enganar e adquirir uma série de coisas inúteis sem nenhuma necessidade, simplesmente porque não consegue ficar sem comprar todas as vezes que sai de casa e atualmente tem sido mais sério com os sites de compras pela internet. Em geral, sentem-se culpadas, mas não conseguem evitar essas atitudes consumistas, é algo que se não realizarem sentem-se muito mal consigo mesmo, não é apenas uma vontade pontual é uma ansiedade generalizada e funciona como que um “vício” como de qualquer outro aditivo, tanto que a linha do tratamento terapêutico não difere muito se é compulsão por comida, bebidas, ginástica, sexo e outros. Sabemos que a atitude consumista não conduz a nenhum aspecto positivo e complica muito a vida da pessoa, pois acarreta a desconfiança nos relacionamentos, endividamento e stress pelo remorso constante. Compra-se por comprar, não satisfaz o seu íntimo, não supri necessidade alguma, mesmo que por breve tempo isto pareça acontecer.
Precisamos urgentemente realizar uma auto-análise, redescobrirmos a intimidade do nosso eu e de seus valores sólidos. Só assim poderemos encontrar e organizar dentro de nós mesmos os conceitos distorcidos e “mofados”. Muitas vezes a desorientação que envolvem as pessoas que apresentam estes conflitos são os problemas de autoestima e sentimentos de inadequação. Os comportamentos compulsivos são hábitos aprendidos numa tenra idade e seguidos por alguma gratificação emocional, frequentemente um alívio da ansiedade e/ou angústia. São hábitos inadaptados que já foram executados várias vezes e acontecem quase automaticamente numa busca incessante de alívio e prazer. Em resumo, a pessoa que age de forma compulsiva ao adquirir coisas materiais acredita por "certo tempo" que será a forma de externar seus conflitos e insegurança, lógico que de forma inconsciente a pessoa busca pelo prazer, mas que em breve tempo cairá no vazio, pois fazer terapia com o cartão tem seu tempo de vida útil. Quando identificado o problema é necessário uma intervenção profissional.
Em nossa sociedade atual, o consumismo é incentivado o tempo todo, seja pelas empresas, na mídia e afins. Muitos recebem como sinal de grandiosidade, status, poder, riqueza, de se encontrar aberto a todas as novidades do mercado, de tê-las e falar sobre elas. Percebe-se um grande valor material em detrimento dos principais valores para que uma pessoa possa realmente se sentir feliz e saudável. Assistimos uma geração que caminha para uma frieza em seus sentimentos, relacionando muitas vezes consigo mesmo e se ensoberbecendo de valores que conduzem a uma intensa frustração, pois no íntimo de todos nós existe uma demanda muito forte de amor, segurança e atenção.
 Devemos valorizar o que realmente importa, fortalecer as idéias que ajudam a construir. Abandonar aquelas que visam à desintegração emocional. Pois acredito que a profunda satisfação e o bem viver vêm do SER e não do TER.  A hora para acordarmos é agora... Reflita onde você está depositando sua felicidade? Qual é o valor que você dá as pessoas? Quais são os valores que você pretende passar para os seus filhos caso os tenha?
O ideal para todos nós é sabermos dosar e vivermos com equilíbrio e controle dos nossos impulsos, melhor ainda é não sermos prisioneiros de nenhum tipo de compulsão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário